A ONU Mulheres recebe com consternação a notícia do assassinato de Mãe Bernadete Pacífico, na Bahia. Mãe Bernadete atuava em distintas frentes pelo Bem Viver das mulheres e meninas e da população negra no Brasil: era Yalorixá, defensora de direitos humanos, integrante da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), liderança do Quilombo Pitanga de Palmares e ex-Secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial em Simões Filho, município da região metropolitana de Salvador. Como tantas outras mulheres negras brasileiras, Mãe Bernadete Pacífico também clamava por justiça e reivindicava o fim da impunidade pelo assassinato do seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos (Binho do Quilombo).

O assassinato de Mãe Bernadete não é um fato isolado, mas a trágica manifestação de um padrão de violência e discriminação contra pessoas defensoras de direitos humanos observado no país. De acordo com monitoramentos independentes de organizações da sociedade civil, no Brasil, entre 2019 e 2022 houve 1.171 casos de violência contra pessoas defensoras de direitos humanos, sendo 169 assassinatos. As regiões Norte e Nordeste, historicamente, apresentam os maiores índices de violência contra defensores/as de direitos humanos, cujo principal alvo são as pessoas indígenas e negras. Povos e comunidades tradicionais, como os quilombolas, e lideranças religiosas Afro-brasileiras, cujas contribuições são fundamentais para o desenvolvimento sustentável do país, estão particularmente vulneráveis a violência e enfrentam obstáculos adicionais no acesso à justiça, devido à discriminação racial e à intolerância religiosa.

Garantir a plena responsabilização e a reparação integral são elementos fundamentais para pôr fim ao ciclo de violação de direitos humanos contra as mulheres como Mãe Bernadete Pacífico. Por isso, a ONU Mulheres Brasil insta o Estado brasileiro, em todos os níveis, a investigar, julgar e punir com perspectiva de gênero e raça o assassinato de Mãe Bernadete Pacífico, e com pleno reconhecimento do seu papel como liderança religiosa e defensora de direitos humanos. Além disso, a ONU Mulheres Brasil insta as autoridades a adotar medidas urgentes para garantir a proteção das mulheres defensoras de direitos humanos contra todas as formas de violência e discriminação, em conformidade com as obrigações internacionais de direitos humanos assumidas pelo país.

Estendemos a nossa solidariedade a sua família e a todas as pessoas com quem Mãe Bernadete mantinha laços de afeto e axé, desejando que encontrem alento neste momento de dor.