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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade fortalece liderança local e atuação em rede pelos biomas



03.09.2021


Com uso das novas tecnologias e mobilizadas pelos biomas, lideranças agregam significados aos corpos políticos das mulheres indígenas na vinculação entre territórios e povos indígenas 

 

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Lideranças Baniwa e Pankararu rememoram os passos da articulação política da ANMIGA, instância política que reúne mulheres indígenas em todo o Brasil
Foto: ONU Mulheres/Isabel Clavelin

 

Em meio aos seis biomas brasileiros – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal – as mulheres indígenas movimentam uma estratégia política de atuação em rede pelo seu protagonismo, liderança comunitária e incidência política. A recém-criada ANMIGA – Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade tece fios entre as mulheres dos 305 povos indígenas a partir de encontros on-line regulares, em que as telas de celulares e computadores e conexões de internet são recursos tecnológicos que facilitam interligações ancestrais em tempos de pandemia Covid-19.

Em entrevista à ONU Mulheres Brasil, a antropóloga e doutoranda em Antropologia Braulina Baniwa e a geógrafa e doutoranda em Antropologia Social Cristiane Pankararu rememoram os passos iniciais da ANMIGA. A entrevista foi concedida às vésperas do Dia Internacional da Mulher Indígena, data surgida, no ano de 1983, na Bolívia, e que se expande como referência de mobilização na América Latina e Caribe.

A gente tem a materialização de uma frente nacional, referência para as mulheres indigenas que é a ANMIGA. Vinham acontecendo plenárias das mulheres, discussão de projetos voltados para os diretos das mulheres e construção de trazer na ANMIGA não somente grupo, mas todas as idades e de todos os conhecimentos. Por isso, guerreiras da ancestralidade. Vai desde a tia parteira, que nunca foi para a escola, mas tem conhecimento singular que transmite na forma dela à formação indígena. A gente quer que ela se sinta representada. Para nós, na ANMIGA, as mulheres estão sendo representadas por biomas. Todas as mulheres são água, semente, elemento ar, fogo, a gente começa essa discussão da importância da mulher nos territórios”, explica Braulina Baniwa.

Entre as singularidades de gênero, a antropóloga ressalta os atributos políticos e comunitários das mulheres indígenas como “guardiãs de vários conhecimentos e geração de vida. Falo a gente, porque somos redes de mulheres”. Ela destaca, ainda, a trajetória progressiva do movimento de mulheres indígenas entre as causas dos povos e de gênero. “As mulheres sempre fizeram atividades, como Emergência Indígena, a campanha “Vacina, Parente” e representação política. Em março, se consolidou o nome ANMIGA. Desde o projeto Voz das MUlheres Indígenas, a gente continou em parceria com a ONU Mulheres e, hoje a gente pode dizer, temos sementes em vários lugares a partir desse projeto. A partir da consolidacao do entendimento de luta por direitos indígenas e enquanto mulheres,pessoas que podem falar por si e reivindicar os seus espaços na construção coletiva no sentido de continuar os nossos conhecimentos. É muito fortalecimento da identidade a partir do território e corpo das mulheres indígenas”, avalia.

Mobilização nacional – De acordo com o censo demográfico 2010, há 896 mil pessoas indígenas no Brasil: 572 mil ou 63,8 %, viviam na área rural e 517 mil, ou 57,5 %, moravam em terras indígenas oficialmente reconhecidas. Entre esse contingente populacional e distribuição geográfica, as mulheres indígenas vencem barreiras e fortalecem os laços interétnicos em busca de empoderamento político e igualdade de direitos. “A gente já vem nessa mobilização há muito tempo. Não é de agora essa mobilização de mulheres. Pensamos em um nome que nos identificasse e construimos ao longo das nossas reuniões. Desde que a gente começou a pensar nessa consolidação do movimento de mulheres indígenas, a gente faz reunião toda semana”, Cristiane Pankararu.

Ela afirma que as novas tecnologias são aliadas, pois “as redes sociais são usadas como instrumento de mobilização. Descobrimos a internet como uma das principais ferramentas. No ano passado, se tornou a ferramenta porque só amplia as nossas possibilidades de nos comunicarmos e formas de conexão. Teve mobilização do movimento indígena para a realização do primeiro ATL On-line. Realizamos Assembleia de Mulheres on-line. Começamos com a campanha da vacinação, dando eco à campanha da APIB da Emergência Indígena. Até que conseguimos as vacinas. Demos ênfase ao “Vacina, Parente” todo organizado por mulheres indígenas. Em março, organizamos o Março das Mulheres Originárias, das mulheres-bioma. Somos mulheres-semente, mulheres-água, mulheres-raízes, mulheres-tronco, árvores, frutos, folhas. É isso o que falamos sobre Mulheres Originárias. A mãe do Brasil é indígena”, completa Cristiane.

Em 9 de setembro, o movimento de mulheres indígenas realizará a segunda marcha nacional, na capital federal, em seguimento à primeira ocorrida no ano de 2019. “Em reunião on-line, decidimos que faríamos a marcha presencialmente. Estamos nessa Marcha, com o tema “Mulheres Originárias reflorestando mentes para a cura da Terra”, porque é essa busca de sensibilidade, empatia, respeito, valorização da diferença, diversidade sociocultural, socioespacial, que é o nosso país. Cabe todo mundo. O Sol nasce para todos e todas”, adiciona Cristiane Pankararu.  

 

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Braulina Baniwa conta que a “a ANMIGA não tem coordenação executiva. Ela é de toda a rede de mulheres. E a nossa organização se concentra em reuniões coletivas, para a gente tomar todos os processsos de decisão. A ANMIGA trouxe as pessoas que se sentem representadas por esse lugar. Já reunimos mais de 4 mil mulheres on-line. Estamos mapeando redes, coletivos no sentido de ouvir o que fazem nas suas comunidades e o que precisam para fortalecer, porque, às vezes, as discussões do centro não chegam às bases. Temos comunicadoras indígenas, fonte de informação para chegar às comunidades”.

Entre os próximos passos da ANMIGA, está a ampliação da rede. Segundo Braulina, a “ideia é ter um banco de dados com a especialidade dessas mulheres, principalmente fortalecendo o conhecimento ancestral que a gente fala da questão da semente, informação. São valorizações de conhecimentos múltiplos que passam pelas mãos das mulheres, como o parto. A nossa identidade enquanto ANMIGA é uma mullher gestando e por trás várias raízes, ela não anda só. Ela é coletiva. Então, corpo e território, que foi trazida na primeira marcha, continua na identidade e vai continuar nesse processo de cura, afeto e cuidado coletivo”, finaliza.