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Brasil

Juventude indígena incentiva alistamento eleitoral, cadastra grupos étnicos e faz comunicação para autonomia dos povos



05.05.2022


Quatro jovens indígenas contam as suas trajetórias de voluntariado e talento em fazer avançar os direitos dos povos indígenas pela atuação da juventude 

 

A juventude indígena tem desempenhado diferentes funções na organização política dos povos indígenas no Brasil. Talentos em diversas áreas e trabalho voluntário têm colaborado para fazer avançar a busca por direitos humanos e representatividade a partir da iniciativa da juventude indígena. 

 

Uma dessas áreas é a da participação política. Neste ano, milhões de brasileiras e brasileiros irão às urnas para escolher candidatas e candidatos à Presidência da República, Senado, Câmara Federal, governos estaduais e Assembleias Legislativas. Em meio à preparação das eleições, o alistamento eleitoral é uma etapa importante em que a cidadania se credencia para exercer o direito ao voto por meio de cadastramento de eleitoras e eleitores.

Uma dessas movimentações tem liderança da juventude indígena: “Nós fizemos uma mobilização de jovens e para jovens – junto com outras juventudes de outras organizações. Nos juntamos para ver de que forma incentivar a juventude para votar. Vários jovens de 16 a 18 anos não têm título e há uma baixa muito grande de vários anos para cá. A gente considerou a possibilidade de trazer à tona essa consciência de ter um futuro melhor”, disse Jaciara Vasconcelos, voluntária no alistamento eleitoral indígena. 

Juventude indígena incentiva alistamento eleitoral, cadastra grupos étnicos e faz comunicação para autonomia dos povos/noticias mulheres indigenas

Jaciara Vasconcelos fez o seu título eleitoral aos 16 anos e, em 2022, é voluntária no alistamento eleitoral de adolescentes e jovens indígenas

 

“A gente viu essa possibilidade de colocar os parentes para votar e também nos colocar dentro da política. A gente precisa ter os nossos representantes. É importante os jovens estarem conscientes do seu voto, ter o seu título e eleger os parentes nos estados, nos governos, para que a gente consiga também incidir sobre as leis”, completou. 

Momento cívico – Da própria vivência como eleitora na adolescência, Jaciara Vasconcelos encontrou a motivação para o trabalho voluntário. “Estou muito feliz de estar aqui. Eu tirei o meu título aos 16 anos. É uma forma de inspirar outros jovens a estarem aqui e querer ver a representação, o rosto indígena lá na política, lutando pelo nosso território”, adicionou. 

Voz e visibilidade indígenas – Integrante da Mídia Indígena, coletivo integrado pela juventude, Lídia Guajajara faz da comunicação uma área de colaboração ao protagonismo dos povos indígenas na comunicação. O trabalho dela se baseia num percurso já travado, desde os anos 1970, por outras pessoas indígenas por meio da imprensa especializada. “A gente tem como referência várias comunicadoras e jornalistas indígenas, que têm feito este trabalho importante dentro do movimento indígena dentro dos nossos territórios”, contou. 

Como parte desta trajetória, Lídia Guajajara explicou como desenvolve o trabalho: “A gente consegue levar informação e tecnologia para produzir conteúdos de forma democrática, contando a nossa versão. A versão de quem realmente vive no território, porque a grande mídia, às vezes, não conta a nossa história e mostra apenas o lado negativo”.

Juventude indígena incentiva alistamento eleitoral, cadastra grupos étnicos e faz comunicação para autonomia dos povos/noticias mulheres indigenas

Lídia Guajajara, do coletivo Mídia Índia, faz uso das novas tecnologias e das redes sociais na contínua trajetória de mulheres indígenas na comunicação, intensificada desde a década de 1970
Foto: ONU Mulheres/Webert da Cruz

 

Outro ponto assinalado pela comunicadora é o empoderamento das mulheres. “Na comunicação, a gente tem participação. Temos voz ativa. A gente tem conquistado vários locais para trazer a nossa fala, mostrar a nossa realidade, para contar a nossa história. É uma oportunidade, aqui no movimento, para a gente trazer essa visão que parte da sociedade não conhece. A gente consegue transitar entre a aldeia e a cidade, porque aqui também é nosso território. Este país é nosso território”, revelou Lídia Guajajara. 

Secretariado e logística – Encontros indígenas criam oportunidades para atualização de cadastro e credenciamento de novas pessoas guarani. Jeni Lopes, estudante de Pedagogia na Universidade Federal de Santa Catarina, e Larissa Uruí, estudante do Ensino Médio, são algumas das voluntárias que prestam apoio operacional ao secretariado e logística da Comissão Guarani. 

Entre o trabalho na Comissão e o curso universitário, realizado em Florianópolis, Jeni Lopes reconstitui a ligação entre o seu povo como missão de vida. “Eu entrei na faculdade para ajudar o meu povo. Hoje em dia, a gente vive no meio da cidade. Vê a preocupação de defender o nosso povo e o nosso território. Há muita gente que não fala Português. Quando eu comecei na Comissão, entendi bem que a gente precisa dar força para as mulheres, umas às outras”, considerou.

Juventude indígena incentiva alistamento eleitoral, cadastra grupos étnicos e faz comunicação para autonomia dos povos/noticias mulheres indigenas

Mulheres indígenas jovens colaboram com o credenciamento guarani em encontros étnicos; Jeni Lopes (de blusa azul), de Santa Catarina, e Larissa Uruí (de camiseta verde), do Espírito Santo, são alguns dos rostos por trás do secretariado e apoio logístico da Comissão Guarani
Foto: ONU Mulheres/Webert da Cruz

 

Larissa Uruí avaliou que os encontros indígenas nacionais são importantes para o fortalecimento do movimento social. Ela participa dos movimentos de juventude indígena e também de mulheres indígenas. “Nós, jovens, toda vez que participamos de algo sobre a nossa cultura, a gente avalia a participação e troca de conhecimento entre nós. Caciques e lideranças nem sempre estarão ali. Nós, jovens, estamos nos interessando mais nisso”, pontuou acerca do trabalho intergeracional. 

 

Aos 17 anos, ela já foi alvo de diferentes formas de discriminação. “Fora da aldeia, fazem muito bullying com a gente. É muito preconceito contra a gente. Mesmo assim, estamos ali estudando. A gente discute sobre isso porque queremos passar também essa experiência para as criancinhas”.  Estudante do 2º ano do Ensino Médio, Larissa Uruí tem muitos sonhos: “em levar o meu povo mais para frente e terminar os meus estudos. Quero fazer Enfermagem”.