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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

“Nós, mulheres, estamos conquistando nosso lugar no esporte, porque lutamos para isso”, diz Letícia Teixeira, beneficiária do programa Uma Vitória Leva à Outra, sobre Tóquio 2020



09.08.2021


Letícia Teixeira, de 17 anos, atleta de ginástica rítmica, fala sobre o lugar do esporte na sua vida, sobre não desistir e sobre a sua participação no programa Uma Vitória Leva à Outra, programa conjunto entre ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional, em parceria com as ONGs Women Win e Empodera. 

 

Nós, mulheres, estamos conquistando nosso lugar no esporte, porque lutamos para isso”, diz Letícia Teixeira, beneficiária do programa Uma Vitória Leva à Outra, sobre Tóquio 2020/noticias mulheres no esporte meninas marta geracao igualdade covid19

Letícia com a jogadora Marta na ação do programa Uma Vitória Leva à Outra no Carnaval de 2020. Foto: ONU Mulheres/Camille MIranda

Letícia Teixeira entrou no programa Uma Vitória Leva à Outra (UVLO) aos 14 anos, em 2019, pela organização AICEL, e foi indicada para atuar como Jovem Líder do programa na mesma organização. Ela é atleta de ginástica rítmica no projeto Ginastas do Futuro – da mesma instituição – e já participou de eventos esportivos internacionais. Atualmente ela tem 17 anos e continua ativa nas ações do programa UVLO.  

O programa Uma Vitória Leva à Outra (UVLO), iniciativa conjunta entre a ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional, em parceria com as ONGs Women Win e Empodera, incentiva o empoderamento de meninas e jovens por meio do esporte, reunindo práticas esportivas com atividades sobre autoestima, liderança, autonomia, educação financeira, saúde e direitos sexuais e reprodutivos, e igualdade entre mulheres e homens. 

O UVLO surgiu no contexto dos Jogos Olímpicos 2016, em 20 Vilas Olímpicas alcançou mais de 800 meninas, e foi reconhecido como um dos legados das Olimpíadas. Hoje, está passando pelo seu segundo Jogos Olímpicos, no momento em que retorna as atividades, em agosto de 2021, seguindo todos os protocolos de segurança. Serão 630 meninas contempladas por meio de 8 organizações. 

Nesta entrevista, Letícia conta sobre como o esporte modificou a sua vida, como persistiu e não desistiu da ginástica rítmica, e sobre estas Olimpíadas que tiveram a maior participação de atletas mulheres na história das edições. 

 

Como você começou a gostar de esporte? Por que escolheu a ginástica rítmica? 

Desde pequena, sempre fui uma criança muito agitada e curiosa. Perto de onde eu morava, tinha um projeto de judô, que eu sempre passava na frente e via as pessoas lutando. Um dia, em um passeio com minha avó, eu falei “eu quero fazer judô!”. Eu peguei um papel de autorização para responsáveis, levei para minha mãe assinar, ela assinou e eu comecei a lutar. Esse foi o primeiro esporte que eu fiz na minha vida. Comecei a competir e troquei de faixa, eu amava fazer parte dali. Um tempo depois, quando eu já tinha uns 11 ou 12 anos, eu me mudei de casa e tive que sair do judô. Eu fiquei muito triste nessa época.  

Aí, perto do lugar onde eu comecei a morar, minha irmã pequena começou a dançar balé, minha mãe insistiu e eu comecei a fazer também. Foi uma troca muito radical sair do judô para o balé. Depois de um tempo, uma amiga, que faz parte do projeto pelo qual eu conheci o Uma Vitória Leva À Outra [AICEL], me convidou para participar das aulas de ginástica rítmica. No início, eu não queria muito por já fazer balé. Mas, depois dela tanto insistir, eu fui e acabei me identificando muito com o esporte. Saí do balé, fiquei na ginástica rítmica e estou até hoje. Eu amo também esse projeto [Ginastas do Futuro], ele mudou a minha vida. O meu amor pelo esporte começou bem pequenininha e continua até hoje. 

Como o esporte impactou e continua impactando até hoje na sua vida? Em algum momento você já pensou em desistir? 

O esporte mudou a minha vida e continua acrescentando coisas boas. Foi com ele que aprendi a ter responsabilidade, a ter garra. Foi onde eu aprendi a falar “eu quero isso, eu vou conseguir!”. Foi onde eu tive a oportunidade de crescer. A cada dia que passa, eu quero estar mais presente, participar e praticar o esporte, e quero que outras pessoas possam também ter a oportunidade de conhecê-lo. 

A minha professora Michelle, que dá aula no projeto [Ginastas do Futuro], do qual eu faço parte, é uma das pessoas que me inspiram. Ela sempre ensinou a mim e a todas as pessoas que passaram pelo projeto que, além do esporte, aquele momento também é para o nosso crescimento pessoal e profissional. Eu já pensei em desistir algumas vezes porque eu não me achava boa o suficiente, apesar de eu ter me identificado com a ginástica rítmica. Mas no início, pelo fato de não conseguir acompanhar muito bem o ritmo dos treinos, ser flexível ou demorar para pegar as coreografias, eu pensei desistir. 

Com o tempo, eu fui me acostumando e coloquei na minha cabeça que, se eu tivesse foco, eu iria evoluir. Hoje em dia, eu melhorei bastante e ainda tenho muito o que melhorar. Mas, se eu não tivesse continuado, não teria muitas oportunidades que surgiram. 

Eu continuo insistindo no meu sonho porque sei que, quanto mais eu esforçar, mais eu vou conquistar o que eu quero. 

 

Nós, mulheres, estamos conquistando nosso lugar no esporte, porque lutamos para isso”, diz Letícia Teixeira, beneficiária do programa Uma Vitória Leva à Outra, sobre Tóquio 2020/noticias mulheres no esporte meninas marta geracao igualdade covid19

Letícia com outras beneficiárias do programa e a jogadora Marta na ação do Uma Vitória Leva à Outra no Carnaval de 2020. Foto: ONU Mulheres/Camille Miranda

 

Como você sentiu que o Uma Vitória Leva à Outra impactou na sua vida e nas pessoas à sua volta?  

Muitas coisas a gente não aprende na escola, até mesmo em casa. A minha participação no Uma Vitória Leva à Outra foi muito importante, eu tive um crescimento positivo e acredito que muitas outras meninas também tenham tido. Ali, a gente conseguiu aprender e entender de uma forma legal e divertida através das atividades. A gente também criou amizade entre as meninas. Foi muito interessante, eu gostei muito de fazer parte do programa. Espero ter outras oportunidades de estar com as meninas novamente porque foi muito bom mesmo. 

Foi muito importante tudo o que a gente aprendeu sobre empoderamento, sobre violência contra as mulheres, sobre o nosso lugar no esporte. O momento que eu conheci a Marta foi um dos mais importantes, porque conhecer pessoas e mulheres que te inspiram, que nos incentiva, é muito bom. 

Eu sempre falei muito do projeto para minhas amigas e para minhas primas. Sempre quando surge um assunto, eu tento ajudar de alguma forma com o que eu aprendi no programa. Por exemplo, eu tenho uma prima que tinha muito problema de aceitação com o seu corpo. Diversas vezes, depois de tirar uma foto, ela começava a chorar e dizia que estava se sentindo horrível. Eu sempre tentava conversar com ela e falar um pouco sobre o que eu aprendi no Uma Vitória Leva à Outra em relação a empoderamento e autoestima. Hoje em dia, eu vejo que ela melhorou bastante em relação a isso.

Quando você pensa nas próximas Olimpíadas, em Paris 2024, por exemplo, o que você gostaria de ver?

Muitos esportes ainda não são muito conhecidos ou divulgados, um exemplo é a ginástica rítmica. A ginástica rítmica, que é a que eu faço, não é tão vista ou conhecida quanto a ginástica artística. Eu gostaria que esses e outros esportes fossem mais assistidos como o vôlei e o futebol. 

Nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, eu fico muito feliz de ver que nós mulheres estamos conquistando nosso lugar no esporte, porque a gente vem lutando para isso e quero que cada vez mais tenham mulheres no esporte. 

 

Entrevista feita online em 21 de julho de 2021.