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Brasil

Parte 4 – Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos



28.04.2023


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A luta pelo direito à participação efetiva na política e em assuntos públicos; assim como a luta pelo direito à cultura, saúde, trabalho, educação, alimentação e à um meio ambiente sustentável é uma constante na vida das mulheres indígenas. Entre diferentes culturas, etnias, sonhos, conquistas e desafios de ser mulher indígena, as histórias de muitas mulheres se entrelaçam e nos mostram a força de um grito coletivo, que constrói conhecimento como forma de resistência e empoderamento.

Inspirada na trajetória de 5 mulheres indígenas que fazem do trabalho uma ferramenta de construção do empoderamento coletivo, a série de matérias “Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos” traz um pouco da força de mulheres que costuram raízes e fazem da união entre cada uma delas um tecido de histórias e sabedorias coletivas.

Darlene Taukane, do povo Kurâ Bakairi (MT) 

Parte 4 – Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos/mulheres indigenas direitos humanos direitosdasmulheres “As melhores partes da minha vida foram as que eu vivi na aldeia com meus pais, irmãos e avós. Desde pequena aprendi a nadar e a remar uma canoa de casca de jatobá, subir na árvore para coletar as frutas, ou até para brincar e estudar”. Essa é uma das memórias de infância de Darlene Taukane, professora indígena do Povo Kurâ Bakairi (Mato Grosso). Hoje, ela é avó, coordenadora do Instituto Yukamaniru de Apoio às Mulheres Bakairi e foi a primeira Secretária da Federação dos Povos e Organizações Indígenas no Estado de Mato Grosso (FEPOIMT).  

Ela fala sobre a relação com a natureza, sobre colheita e sobre cuidado. Também lembra dos momentos de contação de histórias e conta sobre a importância das árvores durante toda a infância, além de descrever como a natureza também é casa: “quando eu e meus irmãos nos perdíamos no caminho da roça, eu procurava imediatamente uma árvore bem alta, subia bem no topo e enxergava lá de cima onde estávamos e assim encontrávamos nosso caminho”.  

Darlene Taukane foi matriculada aos sete anos na escola da aldeia e foi alfabetizada até os 15 anos. “Tínhamos pouco contato com as pessoas falantes da língua portuguesa, a maior presença era de missionários evangélicos ou protestantes e professoras. Contudo, o que fazia a alfabetização levar mais tempo era a grande rotatividade de professoras na aldeia. Mesmo criança, eu me decepcionava quando sabia que a professora não ia permanecer dando as aulas. Nós, alunos, ficávamos sem perspectiva”.  

Taukane lembra de quando passou uma noite sem dormir, questionando por que as professoras não gostavam de dar aula nas aldeias: “Foi então que sonhei em ser professora  Pensei comigo: um dia vou terminar meus estudos e ser professora do meu povo”. 

Na década de 1970, ela passou a ser voluntária em uma Equipe de Volante de Saúde Indígena (EVSI). Ela preenchia as fichas das pessoas assistidas, principalmente os nomes em língua materna. A equipe da EVSI viu o potencial da menina e levou o nome dela até o setor de educação da Funai. Na época, as bolsas de estudo eram autorizadas apenas para meninos. Taukane conseguiu a autorização e foi com mais quatro meninas indígenas estudar em um internato. Depois do internato, fez o magistério, curso superior e mestrado. 

“Fui a primeira indígena a ser mestre em educação no Brasil, em 1996. Fiz uma análise e reflexão da própria história da educação escolar do meu povo Kurâ Bakairi e do meu próprio processo escolar”, conta.  

Ao terminar o mestrado, Darlene Taukane foi convidada para ser professora dos cursos de formação para os indígenas do Mato Grosso e outros estados. “Meu sonho ampliou não somente para o meu povo, mas também para outros povos. Comecei a defender uma educação bilíngue, específica e intercultural, conforme consta na Constituição Brasileira de 1988”.  

Por Íris Cruz, consultora da ONU Mulheres Brasil