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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Vozes das mulheres na linhas de frente da Covid-19



17.04.2020


Metade do mundo está sob ordens de ficar em casa, o que significa quatro bilhões de pessoas em 90 países. O mundo está se esforçando para impedir a propagação da doença e encontrar maneiras de tratar as pessoas infectadas, e as economias estão sofrendo perdas incalculáveis

 

O novo coronavírus (Covid-19) impactou a todas as pessoas nós, mas a maioria das decisões tomadas são de homens e as vozes que ouvimos são geralmente masculinas. No entanto, a maioria das e dos profissionais de saúde da linha de frente são mulheres e muitas das indústrias diretamente afetadas por quarentenas e bloqueios – como viagens , turismo e produção de alimentos – têm maior concentração de mulheres. A carga de cuidados para as mulheres – já três vezes mais que os homens – aumentou exponencialmente.

A ONU Mulheres está trazendo as vozes das mulheres nas linhas de frente da pandemia. Como trabalhadoras essenciais, prestadoras de cuidados e jornalistas, aqui estão algumas heroínas que estão lá fora, todos os dias, protegendo e servindo suas comunidades.

Entela Kolovani, médica, Tirana, Albânia

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Entela Kolovani é médica em Tirana, Albânia e atualmente trabalha com pacientes diagnosticados com Covid-19
Foto cedida por Entela Kolovani

“As enfermeiras são as verdadeiras heroínas”, diz Entela Kolovani, médica que atende pacientes com Covid-19 no hospital de doenças infecciosas de Tirana, Albânia.

“Elas realizam as tarefas mais difíceis e a maior parte da carga de trabalho. As enfermeiras (a maioria mulheres) são nosso maior suporte, trabalhando em turnos sem fim com equipamentos de proteção especiais, o que é muito difícil de manter e trabalhar. O trabalho delas nunca termina, desde a montagem dos leitos dos e das pacientes até a realização de terapias, a realização de exames e o preenchimento de documentos. Sou muito grata a elas.

Kolovani e suas colegas estão na linha de frente da resposta à Covid-19 desde 9 de março, quando os dois primeiros casos foram identificados na Albânia. Desde então, o número de pessoas infectadas aumentou para mais de 361.

Como prestadoras de cuidados e trabalhadores essenciais, as mulheres correm um risco maior de serem infectadas. Até agora, quase 12% dos casos relatados de coronavírus na Albânia eram profissionais de saúde.

“Um dos nossos maiores desafios é ver colegas com quem trabalhamos todos os dias adoecendo com a Covid-19. Outro desafio é como garantir que mais pacientes se recuperem rapidamente, a fim de não sobrecarregarmos nossos serviços de saúde”, compartilhou Entela Kolovani.

Toda a equipe médica do hospital trabalha mais horas, incluindo o marido, que também é médico. A pandemia de coronavírus colocou pressão sem precedentes nas famílias, especialmente quando os parceiros estão trabalhando na saúde ou em outros serviços essenciais.

Kolovani e seu marido não viram seus filhos desde que a pandemia atingiu o país. “Como eu e meu marido trabalhamos no mesmo hospital e fazemos o mesmo trabalho, o risco de infecção por nosso filho e outros membros da família é muito alto”, explica ela. Quando eles voltam para casa após um longo dia no hospital, a casa parece vazia. “Mas é melhor assim, mantendo distância para evitar infectar sua família”, acrescenta ela.

Natawan Pintho, oficial de Imigração, Aeroporto Suvarnabhumi, Bangcoc, Tailândia

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Natawan Pintho, oficial de imigração no aeroporto de Bangcoc, Tailândia
Foto: ONU Mulheres/Plutão Phutpheng

Natawan Pintho, 29, é oficial de imigração no aeroporto internacional de Bangkok, Tailândia. Tudo mudou para Natawan – de suas rotinas diárias no trabalho ou em casa, ao risco que ela sente todos os dias. “O aeroporto recebe menos pessoas todos os dias. Aprendemos como higienizar nosso espaço de trabalho, nossas mãos, temos que ter mais cuidado com as pessoas usando máscaras e mantendo distância social”.

Antes do surto da COVID-19, Natawan lidava com pelo menos mil passageiros e passageiras todos os dias. Agora, são no máximo 100, o que reduz sua exposição às pessoas, mas a execução de algumas das tarefas simples ainda é arriscada, como verificar as páginas de um passaporte. “Preciso ter certeza de que o passaporte é genuíno e, para fazer isso, preciso tocar o papel com os dedos”, diz ela.

Ter que negar a entrada de pessoas na Tailândia de acordo com as novas regras tem sido uma provação desafiadora para Natawan. “Tive o caso de uma família de quatro pessoas da França. Elas eram descendentes de chineses. Três delas tinham passaporte francês, mas a mulher tinha passaporte chinês. Ela não pôde entrar no país e tivemos que deportá-la de volta.”

“Eu já estou infectada?’ É a pergunta que continuo me perguntando todos os dias. Eu sou alérgica a poeira, então espirro. Antes, ninguém prestava atenção. Hoje em dia, tenho assustando todo mundo!

A família de Natawan vive em Ubon Ratchathani, a 600 quilômetros de Bangcoc. Mas ela não pode visitar sua família agora. “Se eu voltar para minha cidade natal, terei que me colocar em quarentena por 14 dias”, diz ela.

Natawan sente falta dos luxos simples de ir ao salão de beleza e fazer manicure, mas também há preocupações mais sérias em sua mente: “Precisamos conter as despesas, porque o pagamento de horas extras diminuiu; então, isso significa menos dinheiro na mão”. Em março, o salário mensal de Natawan foi 40% menor do que o que ela normalmente recebe.

Parinya Sirirattanapanya, fornecedora de serviços de entrega de alimentos, Bangcoc, Tailândia

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Parinya Sirirattanapanya, uma fornecedora de entrega de alimentos em Bangcoc, Tailândia. Foto: ONU Mulheres/Plutão Phutpheng

A entrega de alimentos está entre os poucos serviços essenciais ainda abertos na maioria dos países durante os bloqueios por coronavírus. Parinya Sirirattanapanya, de 44 anos, está entre as cerca de 150.000 pessoas que trabalham como motorista de delivery de comida, a maioria homens, na cidade de Bangcoc. É o serviço obrigatório para a maioria das pessoas na cidade, incluindo a oficial de imigração Natawan Pintho.

Antes do surto de COVID-19, Parinya tinha uma loja de roupas pop-up. Mas ninguém está mais nas ruas fazendo compras, e sua pequena empresa está fechada. Ela diz que há muitas trabalhadoras e trabalhadores que entregam comida agora.

“O número de trabalhadores e trabalhadoras em entrega de alimentos está aumentando rapidamente e o horário de funcionamento do shopping foi ajustado para 11h às 20h. Recebo menos pedidos e espero mais tempo para coletar a comida”, diz Parinya.

Ela entende o risco ao qual está exposta todos os dias e toma todas as precauções que pode para não levar o vírus de volta à sua família.

“Tenho mais chances de enfrentar riscos à saúde, mas não tenho escolha. Eu preciso do apoio financeiro para minha família.

“Quando saio, visto uma jaqueta, 2 máscaras – um tecido e uma máscara descartável – e luvas, para minimizar o risco de infecção. Também preparo desinfetantes para as mãos e sprays antibacterianos para levar comigo. Eu sempre mantenho as minhas mãos limpas e longe do meu rosto. Toda vez que eu devolvo o troco para os clientes (se precisar tirar minhas luvas), lavo minhas mãos ou as limpo com álcool gel.”

“Gostaria que a Covid-19 pudesse ser controlada o mais rápido possível. Eu sei que várias medidas são implementadas para reduzir a disseminação do vírus, mas muitas pessoas na sociedade as tomam como garantidas. Assumir a responsabilidade social é essencial nessa situação”. Reflete Parinya.

“A capacidade de teste da Covid-19 é realmente limitada. Espero que todas as pessoas possam fazer o teste gratuitamente. Então, podemos minimizar a disseminação da Covid-19 ”, acrescenta ela.

Zevonia Vieira, jornalista, Timor-Leste

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Zevonia Vieira, presidenta da Associação de Jornalistas de Timor-Leste

Zevonia Vieira é a presidenta da Associação de Jornalistas de Timor-Leste e agora reporta diariamente a partir da linha de frente do surto de Covid-19. “Como jornalista, tenho a obrigação de compartilhar informações com o público a qualquer momento, inclusive durante esse surto. As pessoas querem informações confiáveis”, diz ela.

Enquanto países em todo o mundo lutam para limitar a propagação da doença, jornalistas como Zevonia estão se colocando em risco todos os dias para obter informações confiáveis e educar o público sobre as medidas de prevenção recomendadas.

Timor-Leste anunciou o estado de emergência no final de março, e o governo emitiu ordens de distanciamento social, garantindo que todas as pessoas que estão trabalhando na linha de frente tenham acesso a equipamentos de proteção. Jornalistas em Timor-Leste pediram que o governo forneça um centro de mídia, com espaço suficiente e infraestrutura adequada para permitir que jornalistas mantenham o distanciamento social enquanto trabalham.

Zevonia também é mãe solteira e a responsável pela renda de sua família. Durante essa crise, equilibrar seus papéis profissionais e de cuidado tem sido um desafio, como a maioria das mães e pais que trabalham. “Depois de um dia inteiro no trabalho, quando chego em casa, tenho que cuidar com carinho das necessidades da minha família e passar um tempo com meu filho até ele ir para a cama. Então, tarde da noite, continuarei escrevendo”, ela compartilha.

Zevonia está comprometida com seu trabalho, mas exausta. Para superar essa crise, a colaboração com os governos é fundamental, diz ela.

Tassana Boontong, presidenta do Conselho de Enfermagem e Obstetrícia da Tailândia

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Tassana Boontong, presidenta do Conselho de Enfermagem e Obstetrícia da Tailândia. Foto: ONU Mulheres/Pathumporn Thongking

A Tailândia tem uma longa tradição de combinar enfermagem e obstetrícia. A função combinada foi criada para atender à escassez de profissionais de saúde em atenção primária. Há mais de um século, as enfermeiras-parteiras são empregadas em nível comunitário para responder às necessidades de cuidados de saúde de pessoas de todas as idades.

De acordo com Tassana Boontong, presidenta do Conselho de Enfermagem e Obstetrícia da Tailândia, “as enfermeiras-parteiras são necessárias agora mais do que nunca com o aumento do número de pacientes idosos e idosas e com doenças crônicas, pessoas com doenças não transmissíveis e problemas de saúde mental e deficiências”.

Atualmente, 10.000 – 12.000 estudantes se formam todos os anos para se tornarem enfermeiras-parteiras na Tailândia, que tem uma população de 69 milhões. No entanto, ainda existe uma escassez de enfermeiras-parteiras registradas, especialmente em áreas remotas, para atender às necessidades de cuidados médicos primários.

Enquanto a Tailândia enfrenta a pandemia de COVID-19, a escassez de profissionais de saúde está piorando, diz Tassana. “Profissionais precisam trabalhar no hospital o tempo todo com equipamento de proteção individual limitado. Elas e eles não estão apenas enfrentando a doença letal, mas também o estresse mental, a exaustão e a preocupação com suas famílias. Enfermeiras e enfermeiros escolhem ir ao trabalho, cumprir seu dever, mas não podem ver a família. O seguro de vida e o bem-estar do trabalho ainda estão em questão”.

Tassana considera a política da Tailândia de Cobertura Universal de Saúde um fator crítico para promover a equidade no acesso a cuidados de saúde de qualidade. “Os enfermeiros e as enfermeiras desempenharam um papel fundamental na implementação da política de assistência universal à saúde”, diz ela. “Os enfermeiros e enfermeiras defendem que pacientes obtenham um serviço de qualidade… desejo ver um sistema de assistência médica reformado que valorize os serviços de enfermagem, invista mais em recursos de enfermagem e reconheça suas contribuições, inclusive por meio de remuneração e salários justos e melhores políticas de assistência social”.