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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Mulheres Quilombolas relatam desafios na Covid-19 e apresentam agenda de mobilização por direitos à ONU Mulheres



07.07.2020


Participantes de consulta para fortalecer atuação estratégica da ONU Mulheres no apoio a mulheres quilombolas, mais de 20 lideranças apresentaram panorama sobre a realidade de mais de 5.000 comunidades quilombolas no país

 

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Sandra Braga, do quilombo de Mesquita, de Goiás, considera: “a visibilidade da realidade quilombola é fundamental, embora a comunicação sem internet e a falta de dados precisos inviabilizam diagnósticos da doença” 
Foto: ONU Mulheres/Mayara Varalho [imagem captada antes da pandemia Covid-19: Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, em 2018]

“Logo que a pandemia Covid-19 chegou ao Brasil, ela chegou aos quilombos”, disse Givânia Silva, integrante da Secretaria Executiva da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, da ONU Mulheres Brasil. Ela foi uma das 20 lideranças quilombolas, das cinco regiões do país, que participou de consulta com a ONU Mulheres Brasil, em junho, para identificar oportunidades de colaboração e atuação conjunta para avanço da agenda de direitos, tendo as mulheres em sua diversidade racial e étnica, dentre elas as mulheres quilombolas.

Natural do Quilombo Conceição das Criolas, em Salgueiro, no estado de Pernambuco, Givânia conta que o primeiro caso de quilombola com contágio ao novo coronavírus registrado no país foi na sua comunidade no mês de março. Dali em diante, foram iniciadas uma série de medidas. “Comunicar com governadores, produzir materiais para as redes sociais com a “tradução de imagens técnicas para a realidade de quilombolas”, já que quilombolas não aparecem nos informativos a não ser o que nós produzimos. Não paramos. Buscar alternativa para lidar com várias situações nos quilombos até acompanhamento no parlamento para incidir sobre a defesa dos territórios quilombolas”, diz.

Em abril, a Conaq deu início à série de boletins epidemiológicos próprios para monitoramento das confirmações e suspeitas de contágios e óbitos decorrentes da Covid-19. Segundo o último levantamento, divulgado pela Conaq, em 1º de julho, foram confirmados 1.206 contágios, 197 casos em suspeita de contaminação, 125 mortes e três óbitos com suspeita e sem confirmação de diagnóstico. As informações são atualizadas todas as semanas e divulgadas nas redes sociais da Conaq. O portal quilombosemcovid.org é plataforma da Conaq, criada para monitorar os casos por meio de mapa georreferenciado e notícias, que vão desde mobilização e distribuição de cestas básicas à preservação da memória de quilombolas falecidas e falecidos pela Covid-19.

Para Kátia Penha, da comunidade Divino Espírito Santo, do Espírito Santo, há uma mistura de sentimentos decorrentes da pandemia: sensibilidade, medo e angústia. “A pandemia escancarou o racismo. As pessoas têm medo dos alimentos que produzimos. Estamos na invisibilidade. Além do mais, apoiamos as famílias. Mas, aqui, onde vivo, são 200 famílias. Não há como monitorar. Outro problema é a perda do ano letivo. Muitas crianças estão sem estudar”, conta.

Vivendo nas proximidades da Ilha de Marajó, no Pará, Valéria atualizou o grupo acerca do alastramento da pandemia: 28 casos em 16 comunidades naquela semana [de 23 de junho]. “Já foram 83 óbitos, média de um por dia desde o início da pandemia. Jovens estão morrendo por falta de assistência”, relata

Mulheres quilombolas e direitos – A realidade alterada pela pandemia provocou mais diálogo entre as mulheres e juventude quilombolas, além do uso das novas tecnologias, redes sociais e celulares para a comunicação. Falta de água e falhas na conexão com a internet em áreas remotas, onde estão localizadas as mais de 5 mil comunidades quilombolas no Brasil em mais de 1.600 municípios, são alguns dos obstáculos enfrentados. Sandra Braga, do Quilombo Mesquita, localizado em Goiás, “a visibilidade da realidade quilombola é fundamental, embora a comunicação sem internet e a falta de dados precisos inviabilizam diagnósticos da doença”. Entre as alternativas, ela identifica as rádios comunitárias e as redes sociais.

Na agenda política das mulheres quilombolas, outro efeito da pandemia é o adiamento do II Encontro Nacional das Mulheres Quilombolas da Conaq: “Existir para Resistir”, previsto inicialmente para maio deste ano, em Brasília. O evento foi reprogramado para novembro deste ano, mas depende da contenção e desaceleração da pandemia. A aguardada coleta de dados censitários, pela primeira vez, acerca da presença quilombola no país, no recenseamento de 2020, também foi atrasada pela pandemia.

Entre as jovens lideranças das mulheres quilombolas, está Juliana Vaz, do Quilombo Araçá-Cariacá, localizado nas imediações de Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Estudante de Serviço Social, na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, durante a pandemia ela se desdobra para apoiar o cadastramento de famílias para o acesso ao auxílio-emergencial do governo federal e valor de R$ 56,00 destinados a alunas e alunos da rede estadual.

Parcerias para governos locais – Na Consulta com as Mulheres Quilombolas, a ONU Mulheres apresentou a estratégia de localização da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e seguiu no diálogo com o grupo sobre como articular as demandas das mulheres quilombolas para a resposta de governos estaduais e municipais.

Lucimara Muniz, do quilombo Custodópolis, de Campos dos Goytacazes, do Rio de Janeiro, destacou a importância do “planejamento de políticas para as mulheres em governos estaduais e municipais e a agenda de eleições”, que pode gerar novos compromissos com os direitos das mulheres quilombolas”.