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Brasil

“O esporte fez que eu reconhecesse uma força que eu não tinha. As Olimpíadas revelam que é possível conquistar o que queremos”, diz Hingride de Jesus, jovem líder do programa Uma Vitória Leva à Outra



05.08.2021


Hingride de Jesus, de 21 anos, atleta de rugby e integrante do Uma Vitória Leva à Outra, programa conjunto entre ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional, em parceria com as ONGs Women Win e Empodera, fala sobre o impacto do esporte na sua vida, a sua experiência no programa, sobre as Olimpíadas Tóquio 2020 e o que esperar para Paris 2024. 

 

O esporte fez que eu reconhecesse uma força que eu não tinha. As Olimpíadas revelam que é possível conquistar o que queremos, diz Hingride de Jesus, jovem líder do programa Uma Vitória Leva à Outra/uma vitoria leva a outra noticias mulheres no esporte meninas marta geracao igualdade

Hingride na ação do programa Uma Vitória Leva à Outra no Carnaval de 2020. Foto: ONU Mulheres/Camille Miranda

 

O Uma Vitória Leva à Outra (UVLO), programa conjunto entre a ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional, em parceria com as ONGs Women Win e Empodera, surgiu no contexto das Olimpíadas 2016, foi reconhecido como legados dos Jogos Olímpicos e está passando pela sua segunda Olimpíadas. 

O UVLO, com atuação no Rio de Janeiro, fomenta o empoderamento de meninas e jovens por meio do esporte, juntando práticas esportivas com dinâmicas sobre autoestima, liderança, autonomia, educação financeira, saúde e direitos sexuais e reprodutivos, e igualdade entre mulheres e homens. 

Em 2020, o programa teve que suspender algumas das atividades que estavam planejadas por conta da Covid-19. Mas com o avanço da vacinação no Rio de Janeiro e a queda de infectados e infectadas, está retomando as atividades em agosto de 2021, seguindo todos os protocolos de segurança, juntamente com as Olimpíadas em Tóquio. 

Essas são as Olimpíadas com maior participação de atletas mulheres na história das edições. Paraas participantes do programa Uma Vitória Leva à Outra, essa é uma oportunidade única de se verem representadas nas Olimpíadas, um momento essencial para se inspirar, se reconhecerem e perceberem que é possível fazerem tudo o que sonham.  

Para saber mais como o esporte impactou a sua vida, como foi a sua relação com o Uma Vitória Leva à Outra e sobre as Olimpíadas Tóquio 2020, a ONU Mulheres entrevistou Hingride de Jesus, moradora da Pavuna, no Rio de Janeiro. Hingride participou do programa em 2019 pela Federação Fluminense de Rugby e atualmente é Jovem Líder do programa pela mesma instituição. Ela tem 21 anos, é mãe do pequeno Bernardo de três anos, e nos inspira a refletir sobre transformação através por meio do esporte a partir da sua experiência no UVLO. Confira abaixo a entrevista. 

 

Qual foi o seu primeiro contato e como começou o seu amor pelo esporte? 

Desde muito nova, eu gostava de assistir esporte na TV. Seja ele qual fosse, eu queria ver, quando era época de Olimpíadas então… eu não parava de assistir! Mas eu nunca fui incentivada de fato a praticar esporte quando era criança. Na Eeducação Ffísica, era sempre queimado, pique-bandeira, amarelinha e outras brincadeiras. Então, eu só fui ter o primeiro contato com o esporte, de fato, no Ensino Médio, quando eu tive contato com futebol, vôlei e handball. 

E aí, por volta dos 16 anos, eu conheci o rugby. Eu falei “poxa, eu gostei tanto desse esporte, eu quero conhecer mais dele!”. Então, eu e as meninas da turma montamos um time de rugby. Quando eu vi, eu já estava apaixonada pelo esporte: eu queria estar todo final de semana nos treinos e participar de todos os jogos. Eu já estava completamente dentro do esporte, algo que eu nunca achei que teria na minha vida por nunca ter sido muito incentivada.  

O esporte me fazia e me faz sentir completa. Fez com que eu reconhecesse uma força que eu não tinha, uma determinação que eu não achava em mim. O esporte deu um estalo na minha vida, me trouxe a garra de querer conquistar e conseguir as coisas. 

Como foi para você a participação no programa Uma Vitória Leva à Outra? Teve algum momento especial, mesmo que simples, que você lembra com carinho? 

O programa Uma Vitória Leva à Outra foi muito importante pra minha vida emocional principalmente, porque mudou minha visão sobre o que eu achava sobre o mundo e até sobre mim mesma. O programa foi essencial na minha vida, acho que se ele não tivesse chegado para mim e eu não tivesse participado, talvez eu seria uma outra pessoa hoje em dia, eu não teria mudado tanto. 

Tiveram muitos momentos especiais: cada aula, cada treino, foi um momento especial. Mas um momento do qual eu lembro com carinho foi a segunda aula da oficina de liderança UVLO, em que estava eu e mais algumas meninas. Quando eu olhei ao redor e percebi que eu estava ali, com várias meninas diferentes, de outros bairros, de outros projetos de esporte, com trajetórias, idades e características totalmente diferentes. 

 

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Hingride com outras participantes do programa Uma Vitória Leva à Outra na ação do Carnaval de 2020. Foto: ONU Mulheres/Camille Miranda

 

Como foi participar da oficina de liderança UVLO realizada em janeiro de 2020 e da ação com a jogadora Marta no carnaval de 2020? 

Participar da oficina de liderança, para mim, foi essencial, foi a confirmação de tudo que eu tinha passado no programa antes. Confirmou mais uma vez que eu sou capaz, que eu posso, eu consigo. Inclusive que eu posso falar, divulgar, me comunicar e passar meus conhecimentos para as outras meninas e mulheres que ainda não tiveram a experiência, o contato e a troca que eu tive no Uma Vitória Leva à Outra. 

E a ação com a jogadora Marta no Carnaval foi incrível! Porque a gente se vê nela, a gente olha e reconhece que ela já foi um dia como eu sou agora. E fez tudo sem perder a essência, ela é super humilde. Encontrar com a Marta só fez a gente acreditar ainda mais – o triplo talvez – que a gente pode chegar lá, que a gente pode conseguir, que pode continuar e conquistar nossos objetivos. E também que a gente pode fazer deste sucesso um trampolim para as nossas lutas sobre igualdade, equidade e sobre ser mulher. Eu achei muito importante essa ação, de verdade! 

 

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Hingride com outra participante do programa Uma Vitória Leva à Outra na ação do Carnaval de 2020. Foto: ONU Mulheres/Camille Miranda

 

Como o esporte impactou e continua impactando até hoje na sua vida? Qual pessoa que te inspira a seguir? 

O esporte impactou todas as áreas da minha vida, e, até hoje, eu o tenho como válvula de escape para todos os meus sentimentos. Ele me fez ser bem mais resiliente, me fez entender o próximo e as dores do próximo. Viver o esporte é uma coisa muito importante. Eu sempre falo que uma pessoa que me inspira é a minha mãe. Ela é tudo pra mim, é meu exemplo de força, de atitude, de uma mulher guerreira. Eu sempre digo para ela que ela é um mulherão porque ela me incentiva demais, me cobra e me faz ser uma pessoa melhor.

As Olimpíadas de Tóquio são um marco, pois é a edição com maior presença de atletas mulheres da história. Como você se sente ao ver cada vez mais mulheres no esporte? Por que você acha importante?

Quando eu paro para pensar, eu fico imaginando como era para as mulheres antes da gente, porque as mulheres simplesmente foram impedidas de estarem nos lugares onde gostariam de estar e seus direitos foram retirados. Mas quando eu vejo hoje essa participação imensa de meninas e mulheres, eu fico muito orgulhosa de nós. Fico muito orgulhosa de ver que nós estamos conseguindo nosso espaço, de que nós estamos alcançando os nossos objetivos e de que isso não vai parar por aqui. Esse é só o começo, a gente ainda tem muitas lutas pela frente. Essas Olimpíadas são a certeza de que a gente está fazendo certo, de que a gente está com conseguindo conquistar aquilo que queremos. 

 

O esporte fez que eu reconhecesse uma força que eu não tinha. As Olimpíadas revelam que é possível conquistar o que queremos, diz Hingride de Jesus, jovem líder do programa Uma Vitória Leva à Outra/uma vitoria leva a outra noticias mulheres no esporte meninas marta geracao igualdade

Hingride com a jogadora Marta na ação do programa Uma Vitória Leva à Outra durante o Carnaval de 2020. Foto: ONU Mulheres/Camille Miranda

 

Quando você pensa nas próximas Olimpíadas, em Paris 2024, por exemplo, o que você gostaria de ver?

Acho que para além da maior participação de atletas mulheres nas Olimpíadas, gostaria de ver uma maior divulgação em jornais, mídias sociais e na própria televisão sobre essas mulheres. Os canais de comunicação poderiam dar mais atenção à participação das mulheres no esporte. É muito bom, por exemplo, quando a gente vê uma mulher, ou uma menina, que conseguiu conquistar o seu lugar, que está lá ganhando medalha, que está vencendo, participando. Isso faz com que a gente, meninas e mulheres, se veja e tenha alguém para se inspirar.