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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Déficit anual de US$ 420 bilhões é entrave para a igualdade de gênero em países em desenvolvimento



30.06.2025


O subfinanciamento crônico, sistemas fracos de monitoramento e regras financeiras injustas estão atrasando o progresso na igualdade de gênero. A ONU Mulheres faz um apelo por investimentos urgentes e sustentados para fechar essa lacuna e cumprir os compromissos com a igualdade.

Nova York — Os países em desenvolvimento estão deixando de investir cerca de US$ 420 bilhões por ano no financiamento necessário para alcançar a igualdade de gênero conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Na Quarta Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), realizada em Sevilha, Espanha, a ONU Mulheres saudou a adoção por consenso do Compromiso de Sevilla, que reafirma o compromisso compartilhado dos Estados-membros com o desenvolvimento inclusivo e sustentável. Apesar do contexto global desafiador, o acordo representa um avanço ao reconhecer o papel essencial da igualdade de gênero nas estratégias de financiamento.

A FfD4 é uma oportunidade crucial para construir um impulso duradouro no financiamento da igualdade de gênero, agora amplamente reconhecida como essencial para o desenvolvimento sustentável e para economias fortes e inclusivas. O que se precisa agora é de uma década inteira de investimentos consistentes e direcionados para fechar as lacunas de gênero, desbloquear oportunidades e garantir que ninguém fique para trás.

A ONU Mulheres está pedindo que governos e instituições financeiras passem das promessas para investimentos tangíveis e sustentados que beneficiem as mulheres e meninas que mais precisam. A lacuna atual evidencia o subfinanciamento profundo e crônico dos direitos e serviços das mulheres e sinaliza a necessidade urgente de realocação de recursos por parte dos governos e instituições financeiras. A maior parte do financiamento global continua a ignorar os países mais pobres, onde vive a maioria das mulheres de baixa renda e onde o investimento é mais necessário. O dinheiro simplesmente não está chegando às mulheres e meninas que mais precisam.

Apesar do aumento do uso de orçamentos sensíveis à questão de gênero, apenas um em cada quatro países possui sistemas para rastrear como os fundos públicos são alocados para a igualdade de gênero. Sem essas informações, é quase impossível planejar, orçar e alcançar metas nacionais de desenvolvimento.

“Não podemos fechar as lacunas de gênero com orçamentos cegos”, disse Nyaradzayi Gumbonzvanda, Diretora Executiva Adjunta da ONU Mulheres. “Os governos devem respaldar seus compromissos com investimentos reais e rastrear como o dinheiro é gasto e o que ele alcança. A igualdade de gênero deve sair das margens das linhas orçamentárias e ocupar o centro da política pública. Isso exige dinheiro. Exige reformas. E exige liderança que veja as mulheres não como um custo, mas como o futuro.”

Na conferência internacional de financiamento, a ONU Mulheres apresentou recomendações concretas para acelerar o progresso das mulheres e meninas e o cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável:

  • Expandir e ampliar o uso de orçamentos sensíveis à questão de gênero, garantindo que as prioridades nacionais estejam alinhadas com os objetivos de igualdade de gênero. Isso assegura que o financiamento vá para onde é realmente necessário: para atender às necessidades e direitos específicos de mulheres e meninas em todos os setores. Os países também devem fortalecer suas instituições e vontade política para implementar e monitorar esses orçamentos. Isso é fundamental para mudanças sistêmicas e duradouras.
  • Implementar alívio urgente da dívida, regras de financiamento global mais justas e reformas tributárias progressivas e sensíveis à questão de gênero. Essas medidas são essenciais para acabar com a austeridade e gerar receitas para investimentos públicos em serviços essenciais como saúde, educação e cuidados.
  • Reequilibrar os gastos públicos para refletir metas de desenvolvimento humano de longo prazo, incluindo igualdade de gênero, construção da paz e desenvolvimento social inclusivo. Embora preocupações legítimas com segurança sejam reconhecidas, os governos devem investir mais em cuidados, inclusão e resiliência para cumprir seus compromissos globais.
  • Investir em sistemas públicos de cuidado, como creches e cuidados para idosos — infraestrutura essencial que permite a plena participação das mulheres na força de trabalho e na sociedade. Investir 10% da renda nacional em serviços de cuidado reduziria a pobreza, aumentaria a renda das famílias e criaria milhões de empregos decentes.

A ONU Mulheres enfatiza que o subinvestimento contínuo está atrasando o progresso na igualdade de gênero, no cumprimento dos direitos e no empoderamento de mulheres e meninas, na Agenda 2030 e na Plataforma de Ação de Pequim. Ao final da FfD4, a ONU Mulheres insta os líderes mundiais a alinharem seus compromissos políticos com o financiamento sustentado, transparente e responsável necessário para fechar a lacuna de US$ 420 bilhões — e finalmente cumprir as promessas feitas à metade da população mundial.