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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Bloco ‘Mulheres Rodadas’ reúne foliãs e foliões pelos direitos das mulheres



12.02.2016


Na quarta-feira de Cinzas, o bloco do Carnaval carioca ‘Mulheres Rodadas’ mostrou que é possível lutar contra o machismo e a violência sexual sem perder o samba no pé. Cortejo reuniu foliões em defesa dos direitos das mulheres. A iniciativa contou com o apoio da ONU Mulheres pelo segundo ano consecutivo. “O Carnaval é isso também. A gente não pode esquecer que ocupar a rua é um ato político, então a gente está aqui também para falar que o lugar da mulher é onde ela quiser”, disse uma participante do bloco

Bloco ‘Mulheres Rodadas’ reúne foliãs e foliões pelos direitos das mulheres/

Foto: UNIC Rio/Marcelle Felix

Na quarta-feira de Cinzas (10), no Rio de Janeiro, o bloco “Mulheres Rodadas” mostrou que Carnaval e luta política podem andar e dançar de mãos dadas. Sem perder o samba no pé, foliões se reuniram no Largo do Machado para se manifestar contra o machismo e o assédio sexual. Nesta que é a segunda edição do bloco, os organizadores homenagearam a atriz Leila Diniz, considerada símbolo feminista em uma época de cerceamento das liberdades individuais, durante os anos 1960.

Ao som de marchinhas, funk e clássicos da MPB, como “Geni” e “Zepelim”, de Chico Buarque, o bloco reuniu um público variado, que desfilou pelas ruas do Catete e Barão do Flamengo até chegar ao Aterro.

A foliã Mariana Muniz, jornalista, contou que escolheu o “Mulheres Rodadas” para passar a quarta-feira de Cinzas pelo fato de a festa levantar a bandeira dos direitos das mulheres. “O Carnaval é isso também. A gente não pode esquecer que ocupar a rua é um ato político, então a gente está aqui também para falar que o lugar da mulher é onde ela quiser”, concluiu. “Além de tudo, tem uma música ótima”, acrescentou em tom descontraído.

Para Marina Maia, que toca surdo na banda do “Mulheres Rodadas”, o bloco é uma oportunidade de unir a alegria do Carnaval com o feminismo. “Eu sou professora, trabalho muito isso com os meus alunos, a gente conversa muito sobre feminismo, machismo, então acho que é importante ir pra rua, no momento que eu mais gosto do ano, que é o Carnaval, falando exatamente da coisa que mais norteia a minha vida, que é o feminismo”, explicou.

O bloco conta com o apoio institucional da ONU Mulheres pelo segundo consecutivo. A representante da agência das Nações Unidas, Nadine Gasman, elogiou a iniciativa. “O carnaval é a maior festa popular do Brasil e uma ótima oportunidade para chamar a atenção das pessoas, que brincam umas ao lado das outras, sobre importância do respeito aos direitos das mulheres. Além de defender o empoderamento das mulheres, o bloco também coloca as mulheres como protagonistas na direção e na organização das atividades carnavalescas. Essa é uma prática que vem se expandindo no país e trazendo a igualdade de gênero também para a folia”, afirmou.

A aposentada Renata Hilman, de 63 anos, toca agogô com os instrumentistas do bloco. “Tô engajada nessa luta por todas as meninas”, disse. Ela contou que sua filha foi vítima de assédio na terça-feira (9). “O que me deixou muito preocupada. Então, cada vez mais, a gente pensa nisso”. Aos foliões, ela deu um recado: “Rapazes, vamos brincar, vamos ser felizes, vamos educar nossos meninos a serem homens com consciência”.

Apesar de ser composto, em sua maioria, por mulheres, alguns homens também integram o “Mulheres Rodadas” e parecem já ter desenvolvido a consciência que dona Renata cobra dos frequentadores do Carnaval. “Eu sei que a gente ainda tem machismo dentro da gente, no dia a dia. Eu tento minimizar isso, a gente tenta minimizar isso nas pessoas”, disse o trombonista do bloco, Richard Barros. “Eu acho que isso é muito prejudicial pra sociedade. Não é só pela música, eu tô aqui porque eu acredito muito mesmo nessa causa.”

 

Bloco ‘Mulheres Rodadas’ reúne foliãs e foliões pelos direitos das mulheres/

Campanha #MeuNúmeroÉ180 marcou presença no Mulheres Rodadas Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade

 

Bloco surgiu nas redes sociais –  “Mulheres Rodadas” começou como uma reação a uma postagem nas redes sociais, em que um rapaz segurava um cartaz com a frase “Não mereço mulher rodada”. Ao verem a indignação de muitos internautas, as jornalistas e amigas Renata Rodrigues e Débora Thomé tiveram a ideia de organizar um bloco de Carnaval em defesa dos direitos das mulheres.

“O bloco surgiu em dezembro de 2014 como uma piada contra essa ideia machista”, afirmou Renata. “O que é ser uma mulher rodada? Que conceito é esse?”, questionou. Ela explicou que a ideia de criar um evento com o tema no Facebook tinha o objetivo de reunir apenas algumas pessoas próximas, mas em alguns dias, mais de 3 mil usuários da rede confirmaram presença no bloco, que levou 2 mil foliões às ruas em seu primeiro desfile, em 2015.

“O Carnaval é um período em que as mulheres sofrem muito assédio, em que acontecem muitos estupros. Então, precisamos fomentar o debate, fazer as pessoas entenderem, o que a gente mesmo – não só os homens, como as mulheres também – o que é um assédio e o que não é”, explicou Renata. Além de pôr o bloco na rua, o Mulheres Rodadas participa de campanhas de ativismo nas redes sociais e realiza palestras em escolas e faculdades.

“A gente percebeu que consegue se comunicar com alguma facilidade”, afirmou Débora Thomé, acrescentando que acha importante manter o bloco o mais espontâneo possível, com as brincadeiras típicas de Carnaval, mas promovendo, sempre, a liberdade da mulher.