• Português

A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

“Empoderando Refugiadas” encerra segunda edição com 21 contratações no setor privado



31.08.2017


Iniciativa da Rede Brasil do Pacto Global, ACNUR e ONU Mulheres terá seguimento em 2018. Documentário “Recomeços” mostra conquistas de mulheres refugiadas no mercado de trabalho
Assista aqui ao minidocumentário

“Empoderando Refugiadas” encerra segunda edição com 21 contratações no setor privado/noticias direitosdasmulheres

Refugiadas e representantes de empresas comemoram êxito da segunda edição do projeto no Espaço Itaú, em São Paulo
Foto: ACNUR/Luiz Fernando Godinho

 

Numa sala de cinema e de frente a uma plateia atenta, dez refugiadas – de diferentes nacionalidades e que vivem em São Paulo – estavam emocionadas. Retratadas pelo documentário “Recomeços – sobre mulheres, refúgio e trabalho”, que acabara de ser exibido, elas dialogavam com o público sobre suas trajetórias e conquistas, esbanjando força e perseverança.

“Mulheres refugiadas são guerreiras, pois não é fácil sair do seu país. Agora sou mais independente e tenho orgulho de mim mesma”, disse Aicha, sobre suas conquistas no mercado de trabalho. “Deparar com tanta gente querendo ouvir sua história é gratificante. Obrigado por seu tempo”, agradeceu Lara. “Estudo, trabalho e sustento minha família, e isso me faz crescer pessoalmente e intelectualmente”, atestou Lúcia, que acaba de conseguir seu primeiro emprego e está cursando universidade.

Assertivas, as refugiadas encantaram o público durante o encerramento da segunda edição do projeto “Empoderando Refugiadas”, coordenado pela Rede Brasil do Pacto Global e realizado em conjunto com o ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e a ONU Mulheres. O documentário “Recomeços” está disponível no YouTube.

Implementado desde novembro de 2015, o projeto trouxe impactos positivos para a vida das 80 refugiadas que se envolveram nas duas últimas edições: 21 delas foram contratadas por diferentes empresas, sendo 11 por meio de oportunidades facilitatas pelo projeto. Outras abriram seus próprios negócios. Todas tiveram acesso gratuito a cursos online e a diferentes treinamentos oferecidos por empresas parceiras, sendo que 40 receberam aconselhamento profissional individualizado por meio de sessões de coaching.

“O Pacto Global da ONU é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo e tem a obrigação de influenciar as empresas sobre a questão dos refugiados, no momento em que vivemos a maior crise humanitária da história”, afirmou o Secretário Executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira, durante a cerimônia.

Com mais de 700 signatários, a rede brasileira é a maior do Pacto Global nas Américas e a quarta maior do mundo, alinhando os negócios do setor privado com dez princípios da ONU nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. A Rede Brasil do Pacto Global é vinculada ao PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

“As mulheres refugiadas trazem com elas bagagem profissional, energia e uma força extraordinária para refazer suas vidas em outro país”, disse a representante do ACNUR no Brasil, Isabel Marquez. Para ela, o setor privado tem um papel fundamental na resposta à crise de refugiados e “precisa olhar para estas mulheres não como vítimas, mas como pessoas que podem contribuir para o crescimento das empresas com seu talento, sonhos, tradições e riqueza cultural”.

Também presente na cerimônia, a Gerente dos Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU Mulheres, Adriana Carvalho, afirmou que “o empreenderorismo é uma alternativa para as mulheres refugiadas e uma excelente oportunidade para as empresas comprometidas com esta causa, pois também ganham com suas habilidades”.

Sobre o projeto – O projeto foi criado pelo grupo temático de Direitos Humanos e Trabalho da Rede Brasil do Pacto Global, que reúne empresas interessadas em questões e soluções relacionadas ao tema. Assim, o “Empoderando Refugiadas” considera que o trabalho é condição fundamental para a independência financeira e uma vida digna, além de ser um fator primordial para a integração das pessoas refugiadas à sociedade.

Segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), cerca de 9,5 mil pessoas são reconhecidas como refugiadas no Brasil, sendo de 82 nacionalidades distintas. No ano passado, 32% das solicitações de refúgio foram feitas por mulheres.

O “Empoderando Refugiadas” age em duas frentes para aumentar o acesso das mulheres refugiadas ao emprego formal. A primeira é conscientizá-las sobre seus direitos e fornecer habilidades e ferramentas para a independência e empoderamento econômico. Ao longo do projeto, elas participam de encontros mensais sobre temas como planejamento financeiro e profissional, direitos como refugiadas, mulheres e trabalhadoras e habilidades práticas para melhorar o português e o empreendedorismo feminino.

A segunda frente diz respeito à conscientização e sensibilização das empresas na falta de conhecimento das corporações sobre documentação ou flexibilização do processo de contratação. Para auxiliar nesse processo, uma cartilha com perguntas e respostas frequentes dos empregadores foi produzida e distribuída aos convidados do evento.

São parceiros estratégicos do projeto a Caritas Arquidiocesana de São Paulo, o Consulado da Mulher, a Fox Time Recursos Humanos, o ISAE, o Migraflix e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). A segunda edição contou com a parceria das empresas Carrefour, EMDOC, Facebook, Lojas Renner e Sodexo.

Documentário – No documentário “Recomeços – sobre mulheres, refúgio e trabalho”, realizado por Fellipe Abreu e Thays Prado, as refugiadas refletem sobre os impactos do trabalho em suas relações familiares, sociais e em seu próprio entendimento dos papeis de gênero desempenhados por elas.

“Nossa intenção é mostrar que independente de qualquer aresta, as mulheres refugiadas são pessoas trabalhadoras, capacitadas, inovadoras, empreendedoras e que podem acrescentar muito à nossa sociedade”, defende Fellipe. Para Thays Prado, narrativas como essa são capazes de mudar o mundo. “Quando damos voz a pessoas que geralmente são silenciadas, como é o caso das mulheres refugiadas, conseguimos perceber melhor as nossas semelhanças e acolher as diferenças”, comentou a roteirista.

O encerramento da segunda edição do “Empoderando Refugiadas” teve um momento de interação entre as refugiadas e representantes de empresas presentes, no qual foi oferecido um buffet de comida árabe preparado pelas refugiadas Salsabil e Razan – participantes do projeto e estrelas do documentário. Na recepção estava Prudence, que participou da edição anterior. Tami, outra ex-participante, montou sua barraca de artesanato e vendeu vários produtos aos convidados.

A presença de várias empresas – além das parceiras do projeto – no evento do “Empoderando Refugiadas” mostra o interesse do setor privado no projeto e cria oportunidades de novas parcerias.

Algumas das empresas já possuem um histórico de contratações de refugiados. É o caso do Carrefour, que desde 2013 tem incluído pessoas nessa condição em seu quadro de colaboradores. Outras se envolveram no projeto pela primeira vez. “Temos muito orgulho do nosso envolvimento com o projeto, pois fazemos uma diferença real na vida destas mulheres”, disse Djalma Scartezini, Gerente de Diversidade da Sodexo, que já contratou duas refugiadas por meio do projeto.

“Aprendemos como as mulheres refugiadas são fortes, capazes, criando oportunidades quando estão juntas”, avaliou Camila Fusco, diretora de empreendedorismo do Facebook para a América Latina – a empresa realizou um dos workshops, produziu e divulgou um vídeo sobre o projeto e orientou a criação de páginas orientadas a negócios próprios das refugiadas.

Para o presidente da EMDOC, João Marques, o projeto concretiza a responsabilidade social das empresas. Por meio do Programa de Apoio à Recolocação de Refugiados (PARR), a EMDOC facilita o encaminhamento de currículos de refugiados e solicitantes de refúgio para empresas interessadas na contratação desta mão-de-obra.

E para Isaura Morel, analista de Responsabilidade Social do Instituto Lojas Renner, o emprego proporcionado às mulheres refugiadas “traz autonomia, empoderamento e inclusão da maneira mais humana”. No total, cinco refugiadas trabalham nas empresas associadas à empresa.

Para a terceira edição do projeto, em 2018, o Pacto Global, ACNUR e ONU Mulheres querem aumentar o número de mulheres e empresas participantes do “Empoderando Refugiadas”, em 2018. A ideia tem o apoio das refugiadas que participaram da segunda edição. “Quero que as pessoas fiquem do nosso lado, para ajudar as refugiadas até a gente crescer”, disse Razan. “Abram suas portas e nos deem oportunidades, pois podemos agregar, unir culturas e ajudar as empresas a crescer”, afirmou Lara, refletindo a opinião das refugiadas empoderadas pelo projeto.
Por Luiz Fernando Godinho e Monika Bundscherer