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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Nota de pesar sobre o falecimento de Luiza Bairros, feminista negra e ex-ministra da Igualdade Racial



12.07.2016


Nota de pesar sobre o falecimento de Luiza Bairros, feminista negra e ex ministra da Igualdade Racial/

Ex-ministra Luiza Bairros, no lançamento da Década Internacional de Afrodescendentes, ao lado de Mireille Fanon-Mendes, experta da ONU

É com pesar que a ONU Mulheres Brasil se solidariza às brasileiras e brasileiros pelo falecimento de Luiza Bairros, na manhã desta terça-feira (12), em Porto Alegre. Apresenta condolências para familiares, amigas e amigos, ativistas dos movimentos de mulheres negras, negro, feminista e de mulheres.

“Luiza Bairros foi uma mulher negra sagaz e extremamente inspiradora por suas ideias e capacidade de trabalho. Fez parte da geração de ativistas do movimento negro que denunciou obstinadamente o mito da democracia racial e trabalhou para a consciência negra por meio da ação política. Nos movimentos feminista e de mulheres, discutiu o feminismo com base nas necessidades e nos interesses das mulheres negras. Na academia, desenvolveu uma episteme com perspectiva negra, valorizando a construção histórica da população negra no Brasil, em geral, e das mulheres negras, em particular. Na cooperação internacional, inovou ao colaborar para a construção de marcos políticos de combate ao racismo institucional na municipalidade e na área da saúde no Brasil. Na gestão pública, alargou os princípios republicanos ao primar pela inclusão de negras e negros, mais da metade da população”, considera Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.

O último cargo público que Luiza Bairros exerceu foi o de ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR), no período entre 2011-2014, no qual atuou decisivamente no Ano Internacional de Afrodescendentes, em 2011, e para a criação da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024) sob o lema “Pessoas afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”.

Na época do lançamento, em dezembro de 2014, a ex-ministra havia destacado em entrevista para a Rádio ONU. “O lançamento da Década é um momento de muita alegria para nós no Brasil porque o país teve um papel muito importante em todo o processo de negociação que resultou na aprovação da Década. Com isso, nós poderemos agora fazer com que todos os Estados membros da ONU possam reiterar a sua capacidade de pensar que a situação dos afrodescendentes no mundo pode ser diferente.”

Bairros também pontuava as conquistas para a população negra. “O que nós fazemos é pensar em termos de que todo mundo tem que ter direitos. Por isso trabalhamos tanto na direção do cumprimento imediato da lei de cotas que foi aprovada pelo Congresso nacional. Em 2014, conseguimos a aprovação de uma outra lei que garante 20% das vagas de concursos públicos para candidatos e candidatas negros. E fora isso, há uma série de programas que existem estabelecidos no governo federal que buscam criar oportunidades para as pessoas negras.”

Ativista histórica do movimento de mulheres negras, Luiza Bairros foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), nos anos 1970, e árdua defensora dos direitos da população negra e da luta contra o racismo e o sexismo no Brasil.

Gaúcha, de Porto Alegre, era formada em Administração Pública e de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestra em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutora em Sociologia pela Universidade de Michigan. Por mais de três décadas, radicou-se em Salvador (BA).

Como pesquisadora, deixou um legado teórico sobre racismo, relações raciais e de gênero, posicionando a importância política das mulheres negras. Entre eles, o artigo Nossos Feminismos Revisitados, de 1995: “Este seria fruto da necessidade de dar expressão a diferentes formas da experiência de ser negro (vivida através do gênero) e de ser mulher (vivida através da raça) o que torna supérfluas discussões a respeito de qual será a prioridade do movimento de mulheres negras: luta contra o sexismo ou contra o racismo? – já que as duas dimensões não podem ser separadas”.