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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

ONU Mulheres intensifica atividades com mulheres refugiadas e migrantes em Roraima



09.06.2022


De 3 a 8 de junho, série de ações levou informação e capacitação para mulheres atendidas em Boa Vista; organização busca se aproximar e ouvir grupos de mulheres para melhorar atendimentos focados no empoderamento econômico 

 

ONU Mulheres intensifica atividades com mulheres refugiadas e migrantes em Roraima/noticias mulheres refugiadas

Semana de atividades em Boa Vista contou com mobilização de organizações, rodas de conversas e oficinas temáticas com mulheres refugiadas e migrantes (Foto: ONU Mulheres / Gabriela Cardim)

 

Entre os dias 3 e 8 de junho, a ONU Mulheres realizou uma missão especial em Boa Vista (RR). O objetivo foi realizar capacitação com mulheres refugiadas e migrantes, além de ter uma aproximação maior da população atendida e de organizações parceiras para aprimorar as frentes de trabalho ligadas ao empoderamento econômico. As atividades incluiram rodas de conversa, treinamentos para lideranças, workshops sobre empreendedorismo e formação de grupos com organizações que trabalham com empresas na identificação de vagas de emprego para pessoas refugiadas e migrantes. 

As atividades fazem parte do programa Moverse, implementado conjuntamente por ONU Mulheres, ACNUR, a agência da ONU para Refugiados, e o Fundo de População das Nações Unidas, com financiamento do Governo de Luxemburgo.  

“Infelizmente, ainda vemos uma desigualdade muito grande nas oportunidades de emprego e de empreendedorismo quando comparamos homens e mulheres refugiadas e migrantes. Temos trabalhado nos últimos anos para capacitar as mulheres para o mercado de trabalho brasileiro, e as pesquisas mostram que as refugiadas e migrantes têm mais anos de formação em comparação aos homens. Nosso desafio agora é sensibilizar ainda mais as empresas e fazer com que isso reflita nas oportunidades, tanto na hora de abrirem seu próprio negócio quanto no processo de interiorização para outros estados já com uma vaga de emprego sinalizada”, destaca a especialista em Empoderamento Econômico da ONU Mulheres, Flavia Muniz. 

Atividades com lideranças – A primeira atividade foi realizada pelas três agências no dia 3, em parceria com a Casa da Mulher Brasileira. Participaram 34 mulheres refugiadas e migrantes que se destacam como lideranças em diferentes espaços – entre elas, oito indígenas. O evento teve ações voltadas para mobilização, para compreender as políticas públicas no Brasil e para desenvolver estratégias de incidência política relacionadas ao tema de migração, refúgio e demandas específicas de mulheres nessas situações.  

Idanis, de 35 anos, foi uma das lideranças que participaram da atividade. Para ela, o treinamento foi importante para reforçar o papel que cada liderança possui em suas comunidades, assim como para ter elementos que subsidiem as tomadas de decisão em benefício de todo o grupo. “A importância desse treinamento foi descobrir novos desafios, novas características, habilidades, e, por meio delas, conseguimos nos adaptar e organizar nossas lideranças. Ser líderes nos leva a ter prioridades e nos demanda o controle para tomar decisões, tanto individualmente quanto para o grupo. Sempre buscamos obter resultados positivos e, assim, fortalecer o futuro para outras pessoas”, afirmou. 

 

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Estratégias de mobilização e incidência estiveram entre os temas de treinamento promovido 34 lideranças locais (Foto: ONU Mulheres Brasil / Divulgação)

 

Integração socioeconômica – Principal foco do Moverse, a integração socioeconômica e o empoderamento econômico de mulheres refugiadas e migrantes esteve presente em diferentes momentos. O primeiro deles foi o treinamento Empreendedorismo e Gênero, realizado no dia 6 de junho, em parceria com o Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) de Roraima, pelo programa Ela Pode. O curso teve a participação de 18 mulheres – 4 brasileiras e 14 venezuelanas. O objetivo foi compartilhar experiências, dificuldades e possibilidades de acesso a financiamento, oportunidades de negócios, sistema bancário brasileiro, formalização do próprio negócio e desafios para o empreendedorismo feminino.  

 

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Em treinamento sobre empreendedorismo, mulheres puderam compartilhar experiências e dicas de finanças (Foto: ONU Mulheres Brasil / Gabriela Cardim)

 

Também buscando promover a integração de pessoas refugiadas e migrantes, foi realizado, no dia 8, o workshop Interseccionalidade e Advocacy, em parceria com a Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado de Roraima (ATTERR). O curso contou com a participação de 18 mulheres, trans e cis, e buscou a reflexão sobre como as diferentes identidades acabam limitando as oportunidades de empreendedorismo na sociedade atual. Também abordou ferramentas para sensibilizar governos e sociedade para que a integração socioeconômica se torne uma realidade entre a população refugiada e migrante no Brasil. 

Para a diretora financeira da ATTERR, Rebecka Marinho, ações como a realizada são essenciais para aumentar o conhecimento sobre os direitos das mulheres e empoderá-las para as mudanças que buscam na sociedade. “É de grande importância essa parceria para ver com outros olhares a diversidade, o pluralismo entre mulheres – negras, indígenas, migrantes, trans. O trabalho é importante para desenvolver e fazer com que essa comunidade de mulheres pense no melhor pra si, em uma forma como se defender e de forçar para que haja políticas públicas para inclusão delas mesmas no mercado de trabalho, para que haja diminuição do preconceito, para que haja a igualdade de gênero e salarial”, destaca. 

 

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Na ATTERR, 18 mulheres debateram os entraves para a integração socioeconômica e as possibilidades de ação para mudança (Foto: ONU Mulheres Brasil / Gabriela Cardim)

 

Demandas específicas – No dia 7, grupos focais de mulheres indicadas por organizações parceiras em Roraima compartilharam percepções e ideias para oportunidades e soluções de problemas relacionados à integração socioeconômica de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil. Foram convidadas para essa atividade dois grupos de mulheres: um formado por aquelas que são as únicas responsáveis pelo sustento de crianças e adolescentes (com o total de 37 participantes), e outro por mulheres que possuem rede de suporte nesse cuidado (19 participantes).  

Em ambos os grupos, as mulheres demandaram mais apoio para o empreendedorismo no Brasil e ações para aumento no número de vagas em creches. Também reforçaram a importância do envolvimento e da sensibilização do setor privado para que empregue mais mulheres, em especial as que cuidam sozinhas das crianças. E também reforçaram o desejo de trabalhar mais conjuntamente com outras mulheres, em cooperativas, sindicatos e grupos de mães para suporte mútuo. 

Há três anos no Brasil, Tania participou de um desses grupos. Aos 39 anos, ela considera importante a troca de informações e a formação adquirida, para que siga na busca por seus direitos. “Nas comunidades, temos muito conhecimento. Aqui, em atividades como esta, adquirimos mais conhecimento e conhecemos ferramentas para continuar nossos trabalhos nas comunidades. Aqui nos ensinam como é o país, nos capacitam, nos auxiliam com documentos que nos tornam formalmente migrantes”, destaca. “Viemos de comunidades bastante humildes e aqui nos sentimos bem, nos sentimos acolhidas, sentimos que somos importantes”. 

 

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Atividade com grupos focais de mulheres ajudou a identificar demandas e servirá de base para melhoria de ações do programa conjunto (Foto: ONU Mulheres Brasil / Gabriela Cardim)

 

No mesmo dia, a equipe realizou uma roda de conversa com 30 mulheres venezuelanas que aguardam o processo de interiorização no abrigo Rondon 5. A atividade buscou o compartilhamento de informações sobre os direitos das pessoas refugiadas e migrantes em todo o território nacional, as políticas e serviços do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e demais serviços públicos disponíveis, assim como de experiências e de expectativas sobre o recomeço em outro estado do país. 

Ações com organizações locais – Desde o primeiro dia da missão, a equipe de ONU Mulheres buscou sensibilizar e mobilizar organizações que trabalham diretamente com pessoas refugiadas e migrantes em Roraima para as questões de gênero. O objetivo é aumentar o conhecimento sobre as demandas específicas assim como encontrar formas de sensibilizar empresas para abrir mais oportunidades de trabalho para essas mulheres nos processos de interiorização com vaga de emprego sinalizada. 

Com esse foco, foram realizados dois treinamentos: Empoderando economicamente mulheres através da interiorização (oferecido a 8 militares e profissionais que trabalham na área de interiorização com Vaga de Emprego Sinalizada) e Empoderando mulheres na sala de aula (com participação de 10 professores e professoras do projeto Acolhidos por Meio do Trabalho, da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI). 

Para Diana Kraiser, coordenadora do projeto Acolhidos por meio do trabalho, da AVSI Brasil, é importante o acesso a treinamentos como este para que as equipes estejam preparadas para as demandas das mulheres, assim como para a promoção de oportunidades mais igualitárias. “Foi importante este treinamento principalmente pra gente ir colocando as diferentes lentes da perspectiva de gênero. Muitas vezes, a gente vai no automático, então é importante parar, refletir e pensar sobre outras perspectivas.  E a gente consegue ver, na prática, como pequenas mudanças já têm efeito muito rápido, comemora. 

 

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Atenção às demandas e às oportunidades para o empoderamento econômico das mulheres também foi tema de oficinas com organizações da resposta ao fluxo venezuelano em Roraima (Foto: ONU Mulheres Brasil / Flavia Muniz)

 

Além dos treinamentos para equipes que atendem à população refugiada e migrante, também foram promovidas rodas de conversas com grupos focais dessas organizações. O objetivo foi oferecer informações para subsidiar um Guia de Plano de Ação, ferramenta que apoiará organizações no desenvolvimento de planos para o empoderamento econômico de mulheres refugiadas e migrantes. Participaram dessas conversas colaboradores e colaboradoras da AVSI Brasil, do Exército da Salvação, do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) e do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH). 

Ações conjuntas na resposta – Este é o segundo programa conjunto na resposta ao fluxo venezuelano coordenado pela ONU Mulheres, UNFPA, ACNUR e financiado pelo Governo de Luxemburgo. Entre 2019 e 2021, as organizações implementaram o programa conjunto LEAP – Liderança, Empoderamento, Acesso e Proteção para Mulheres e Meninas Migrantes, Solicitantes de Refúgio e Refugiadas no Brasil. Apenas no primeiro ano do programa, foram alcançadas mais de 18 mil mulheres com informação e acesso a mecanismos de proteção, cerca de 3 mil mulheres com iniciativas de empoderamento econômico e mais de 4 mil mulheres puderam participar da construção da estratégia e das ações em resposta ao fluxo venezuelano no Brasil. 

Iniciado em setembro de 2021, o programa Moverse tem ações previstas até dezembro de 2023. Entre as metas deste novo programa estão alcançar ao menos 15 organizações com planos de ação para o empoderamento de mulheres, 15 mil mulheres com treinamentos para empreendedorismo e mercado de trabalho no Brasil e mais de 3 mil mulheres com serviços de resposta à violência baseada em gênero até o final de 2023. 

Para receber mais informações sobre o Moverse, cadastre-se na newsletter do programa em http://eepurl.com/hWgjiL