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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Economia do Cuidado e Protagonismo Político das Mulheres Indígenas são as duas temáticas discutidas pela ONU Mulheres em programação da ENAP



13.03.2023


Assuntos importantes sobre questões de gênero foram colocados em pauta em encontro alusivo ao Dia Internacional das Mulheres

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Vanessa Sampaio (ONU Mulheres), Gina Vieira e Renata Carvalho (ENAP) discutem economia do cuidado (Foto: ONU Mulheres Brasil / Talita Carvalho)

A ONU Mulheres participou ativamente da programação do Dia Internacional das Mulheres da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Além da presença da representante Anastasia Divinskaya na mesa de abertura do evento, a gerente da área de Empoderamento Econômico das Mulheres, Vanessa Sampaio e a analista de programas da ONU Mulheres, Ana Claudia Pereira, participaram de duas mesas nesta quarta-feira, 8, Dia Internacional das Mulheres.

Vanessa Sampaio esteve presente na mesa “Mulheres, meninas e a economia do cuidado: como avançar na política de garantia de direitos”. Essa programação também contou com a participação da professora Gina Vieira, mestra em Linguística e especialista em Desenvolvimento Humano, e da assessora da Diretoria Executiva da ENAP, Renata Carvalho.

Além da exibição do documentário “Como ela faz”, a atividade estimulou o debate sobre a economia do cuidado, a falta de visibilidade e de reconhecimento de quem realiza tarefas de cuidado, e a importância da formulação e adoção de políticas públicas a fim de reconhecer, redistribuir e adequadamente remunerar esse trabalho.

Vanessa destacou que, apesar do trabalho de cuidado ser fundamental para a organização da sociedade e para a economia, historicamente esse trabalho tem sido invisibilizado, não-remunerado ou mal remunerado, e essencialmente performado por mulheres e meninas em todo o mundo. “A naturalização de papéis de gênero que colocam mulheres e meninas como as principais responsáveis pelas tarefas de cuidado, remuneradas ou não, impacta diretamente nas oportunidades que elas têm ao longo da vida”, ressaltou.

A professora Gina Vieira também destacou que esse tema atravessa a trajetória das meninas, já que, desde crianças, “elas começam a ter que lavar a louça, cuidar do irmão mais novo, enquanto os homens da casa são liberados desses serviços. Isso precisa ser desnaturalizado”.

Marcadores Sociais – Vanessa citou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). “Se olharmos para o tempo de trabalho que mulheres gastam no Brasil com o trabalho de cuidado não remunerado, é possível ver, de forma geral, que mulheres gastam em média o dobro do tempo que os homens exercendo esse tipo de trabalho, incluindo mulheres que também performam atividades remuneradas, o que informalmente chamamos de dupla ou tripla jornadas”, explicou.

Em relação aos marcadores sociais destacados pela PNAD, Vanessa ressaltou o recorte de raça que esse problema evidencia. “Se as mulheres como um todo são sobrecarregadas, as mulheres negras são ainda mais. Elas dedicam ainda mais horas ao trabalho de cuidado não-remunerado, e estão sobrerepresentadas em profissões do cuidado, como trabalho doméstico, educação, enfermagem, que tem menores salários e proteção social. A organização social do cuidado como é hoje reforça as desigualdades de gênero, raça e etnia de forma sistemática, reproduzindo ciclos de discriminação”.

A professora Gina Vieira complementou que o racismo afeta diretamente as questões do trabalho de cuidado “Desde que nascemos nosso inconsciente é alimentado pelo simbólico, ou seja, onde estamos acostumados a ver mulheres negras? Servindo e cuidando, então é como se fossemos predestinadas a isso e, na verdade, não somos. Acredito que precisamos estudar, entender e assumir que somos parte de uma estrutura machista e racista para começarmos a mudar as estruturas. Inclusive, eu, como professora, alerto sobre o quanto isso precisa ser cada vez mais discutido dentro de salas de aula”, enfatizou.

A partir da própria experiência, a professora compartilhou exemplos da importância da ocupação desses espaços e como essas ações são importantes para aumentar as oportunidades e o acesso a direitos por mulheres e meninas. “Ao longo da minha trajetória fui buscando ocupar outros lugares em função de movimentos inspiracionais que eu vivi, e eu sempre repito: quando disserem que você não cabe em um lugar é para lá que você vai!”. A professora também comentou sobre o projeto Mulheres Inspiradoras, que criou em 2014 e hoje acontece em mais de 50 escolas do Distrito Federal. “Levamos para dentro das salas de aula histórias de mulheres, como Maria Carolina de Jesus, Cora Coralina, Nilse da Silveira, dentre várias outras figuras que reforçam a ideia de que podemos estar onde quisermos, independente do contexto social, político e econômico em que estamos inseridas”.

Protagonismo político das mulheres indígenas e o impacto nas políticas públicas – Ainda como parte da programação do Mês das Mulheres na Enap, a ONU Mulheres mediou a mesa “Protagonismo político das mulheres indígenas e o impacto nas políticas públicas”, que contou com a presença da doutora Rita Potyguara, diretora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais no Brasil; Ana Patté, cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade; da deputada federal Célia Xakriabá, da ministra-conselheira da Embaixada da Noruega, Annette Bull; e de Anastasia Divinskaya, representante da ONU Mulheres no Brasil.

No papo mediado por Ana Claudia Pereira, analista de programas da ONU Mulheres, Célia Xakriabá destacou as ações que têm promovido enquanto deputada federal e a importância de políticas específicas para as mulheres e meninas indígenas, como acesso à educação superior de qualidade e ações de enfrentamento à violência.

Ana Patté Xokleng, assessora especial de assuntos parlamentares do Ministério dos Povos Indígenas, relembrou a parceria com a ONU Mulheres para a formação política de mulheres e meninas indígenas, sua experiência no ministério e como o processo de construção da Anmiga foi fundamental para que ela e mais mulheres ocupem espaços de liderança. Annette Bull destacou os 40 anos de apoio do país nórdico à população indígena e ações em torno do projeto “Direitos humanos das mulheres indígenas e quilombolas: uma questão de governança”, desenvolvido pela ONU Mulheres com financiamento da Embaixada da Noruega no Brasil.

No encerramento, Anastasia Divinskaya ressaltou como as mulheres indígenas foram fundamentais para a construção e consolidação das principais normas globais de direitos humanos de mulheres e meninas em todo o mundo. “A abordagem da ONU Mulheres em colaboração com mulheres indígenas se baseia em nosso respeito à sua autonomia e no reconhecimento de que elas são agentes de mudança positiva, uma vez que detêm papéis fundamentais na linha de frente, conhecimentos e experiência necessários para atender às suas necessidades e prioridades”, concluiu.