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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Em Itabira, mulheres negras agem para tornar a cidade mais inclusiva e igualitária



17.12.2020


Participante do projeto Cidade 50-50, Maria da Conceição Leite Andrade, mais conhecida como Lia, é exemplo de como lideranças comunitárias colaboram para a melhoria das condições de vida na cidade

 

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Foto: Arquivo pessoal/Lia Andrade

“A gente precisa deixar um futuro melhor para essa meninada. Ou você luta ou você adoece”, enfatiza Lia Andrade, em uma fala que demonstra como mulheres negras se engajam nos movimentos sociais e no enfrentamento ao racismo estrutural que atinge a população negra brasileira. A história de Lia demonstra o desejo da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Participante do projeto Cidade 50-50: Itabira, Maria da Conceição Leite de Andrade, a Lia, tem se engajado ativamente nas ações da iniciativa da ONU Mulheres Brasil, implementada na cidade mineira em parceria com a prefeitura municipal. Em março de 2020, ela participou de uma etapa do planejamento do projeto e desde então acompanha as ações promovidas pela ONU Mulheres em parceria com a prefeitura municipal. Lia acredita que a iniciativa 50-50 é um caminho para construir conexões entre o poder público e as comunidades, sendo também uma oportunidade de formação e empoderamento: “Eu mudei muito, o saber nos liberta e nos dá autonomia”, comemora Lia.

Despertar para o agir comunitário – O engajamento em causas sociais é uma constante na vida de Lia. Terapeuta, a mineira de 60 anos tem como uma de suas lembranças mais latentes os momentos em que visitou o Presídio de Itabira. No local, se deparou com uma realidade que a assustou: jovens, mulheres e homens ficavam no mesmo espaço no presídio, tendo apenas pequenas celas como separadoras. Nesses locais, eram comuns situações de violência, como assédio e imposição do uso de drogas por adultos e adultas a adolescentes. Em uma das visitas, Lia saiu do presídio e foi para o Fórum Municipal conversar com o juiz responsável. Foi a partir de então que começou a ser articulada a Rede de Proteção à Crianças e Adolescentes em Itabira.

A articulação aconteceu no início dos anos 2000, mas o envolvimento de Lia com os movimentos sociais vem de antes. “São muitos anos de luta”, conta a mineira, que durante a sua trajetória sempre esteve ligada à sociedade civil organizada por meio de entidades ligadas à igreja católica, como a Pastoral do Menor e a Cáritas, e também em associações de bairro e de mães.

A intervenção com a juventude no presídio trouxe ações efetivas a Itabira: adolescentes foram removidos e removidas do presídio e ações de proteção e desenvolvimento voltadas a esse público passaram a ser implementadas. Como voluntária da Cáritas, Lia atuou em diferentes projetos, tais como uma ação de promoção de medida socioeducativa de liberdade assistida, que buscava inserir jovens na escola e em espaços de convívio social. Ela também se tornou representante da organização, tornando-se a primeira presidenta da sociedade civil do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

O engajamento de Lia diz muito sobre a importância de a sociedade civil organizada estar sempre próxima ao poder público. Para a itabirana, é fundamental que a sociedade se aproxime dos governos, por mais difícil que possa ser se impor nesses espaços. “Muitas das vezes a gente não é aceita, principalmente sendo mulher negra, mas a gente precisa ser resistente, ir para esses locais em que o homem branco domina e mostrar o nosso incômodo. Ser aquela pedrinha no sapato”, reforça.

Ao mirar o futuro, Lia aponta para uma cidade em que todas e todos consigam ter dignidade. “Eu sonho com uma Itabira onde as pessoas, as mulheres e as meninas sejam valorizadas. Uma Itabira que tenha coragem de falar e de lutar”, finaliza a defensora de direitos humanos mineira.

Cidade 50-50 em Itabira – O projeto Cidade 50-50 é parte da estratégia desenvolvida por ONU Mulheres Brasil visando a localização Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em estados e municípios, adaptando-se às realidades e necessidades locais. Por meio desta estratégia, a entidade oferece apoio técnico aos governos locais para implementar ferramentas e metodologias que contribuam com o cumprimento de metas e indicadores focados nos direitos das mulheres, presentes em diversos ODS, não se resumindo ao de número 5. Com isto, governos locais tornam-se aptos a endereçar a desigualdade e alcançar o desenvolvimento sem deixar ninguém para trás.

Em Itabira, o projeto é desenvolvido em parceria com a prefeitura e pretende contribuir para que o município, por meio de suas práticas e processos, seja uma localidade que reconheça e atenda as demandas das mulheres relacionadas às políticas públicas nas áreas de enfrentamento à violência contra as mulheres e ao empoderamento econômico, além de investir na maior participação política das mulheres.