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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Mulheres Negras inovam em estratégias de apoio comunitário à população negra na resposta à Covid-19



10.07.2020


Em reunião com a ONU Mulheres, Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 sinaliza novos desafios para a responsividade da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e da Década Internacional de Afrodescendentes às mulheres negras e à eliminação das desigualdades de gênero e raça no Brasil

 

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Pandemia gera novos desafios para resposta da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e da Década Internacional de Afrodescendentes às mulheres negras e à eliminação das desigualdades de gênero e raça no Brasil
Foto: ONU Mulheres/Mayara Varalho

 

Fome. Desemprego. Aumento da violência doméstica e familiar contra as mulheres negras. Prevalência entre as vítimas fatais do novo coronavírus. Este é o quadro ampliado de vulnerabilidades da população negra brasileira acentuado, ao longo de quatro meses, pela pandemia da Covid-19 no Brasil, descrito pelo Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, da ONU Mulheres, em reunião com a equipe-país, liderada pela representante Anastasia Divinskaya.

Constituído em 2017, o Comitê Mulheres Negras tem colaborado com a ONU Mulheres Brasil para a responsividade da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e da Década Internacional de Afrodescendentes às mulheres negras, um dos grupos mais vulneráveis pela interseccionalidade das discriminações de gênero, raça e outras formas de opressão. A pandemia Covid-19 tem levado organizações e coletivos liderados por mulheres negras, país afora, a inovar nas estratégias políticas de enfrentamento do racismo e de apoio comunitário à população negra na resposta à Covid-19.

Para Clátia Vieira, integrante do Comitê Mulheres Negras pelo Fórum Nacional das Mulheres Negras, o impacto da pandemia Covid-19 acirra a situação já revelada pela Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, que reuniu mais de 50 mil afro-brasileiras, em novembro de 2015, em reação às desigualdades de gênero e raça. “Em 2015, a Marcha fez um diagnóstico aprofundado da situação da população negra brasileira. No pós-2015, vemos um processo de desconstrução de políticas e precarização do pouco que se tinha. A pandemia mostra que há mais de 20 milhões de pessoas no Brasil sem registro civil, como vimos na dificuldade de acesso ao plano emergencial. A questão é: como essas pessoas estavam vivendo?”, questionou.

Na avaliação de Clátia, “o maior problema é a fome como se vê nas campanhas de arrecadação de alimentos. Outro tema é a violência contra as mulheres negras que precisa ser discutida com profundidade e urgência de ações de prevenção”, acrescentou ao citar relatos de violência de sexual e violência patrimonial durante a entrega de cestas básicas em favelas e morros do Rio de Janeiro.

Racismo e participação das mulheres negras – Lúcia Xavier, de Criola e componente do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, chama a atenção para a temporalidade da pandemia da Covid-19, cujos efeitos poderão se desdobrar por anos. “O racismo é um problema estrutural. Mas, agora, fala da nossa vida. Estamos na linha da morte. É preciso ampliar a participação das mulheres negras e a capacidade de interferir em novos problemas. As pessoas estão negociando as suas vidas para comer”, frisou.

Regina Adami, do Ìrohìn – Comunicação e Memória Afro-brasileira e integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-5o em 2030, lembrou a proximidade dos 20 anos da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, que serão completados em 2021, e a “atualidade do debate sobre racismo no mundo, da discriminação racista e da xenofobia”. Ressaltou que é “preciso pensar coletivamente o Estado brasileiro e as políticas públicas, pois sem estas as crises decorrentes da pandemia Covid-19 não serão superadas”.

Ampliação das vulnerabilidades – Nilza Iraci, do Geledés – Instituto da Mulher Negra e integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, comunicou que a instituição tem apoiado mães de jovens negros assassinados, população de rua e prostitutas da região central de São Paulo. “Não é só distribuição de cesta básica, temos incentivado as mulheres para que elas produzam máscaras e sabonetes para venda. Assim, elas não são somente receptoras, mas estão produzindo para ter dinheiro e cobrir as necessidades”.

Valdecir Nascimento, do Odara – Instituto da Mulher Negra e secretária-executiva da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), recuperou os posicionamentos da AMNB e da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, em março, quando da declaração da pandemia. “A vulnerabilidade negra está colocada em todas as pandemias. E, dentro da pandemia Covid-19, acontecem outras pandemias: a da violência contra as mulheres, a da violência policial contra a juventude negra, a da violência no campo”, enumerou.

Na contramão, as organizações da sociedade civil buscam soluções diante do quadro de tensão à população negra pelo impacto econômico da pandemia Covid-19. A mobilização envolve redes de costura solidária, agricultura familiar, trabalhadoras domésticas, marisqueiras, catadoras e mães de jovens negros assassinados. “Na área de comunicação, áudios e vídeos facilitam a comunicação com a comunidade, inclusive com as pessoas que desrespeitam o isolamento social. Estamos distribuindo cestas básicas para comunidades de terreiros e mulheres trans. É preciso redefinir novos caminhos de atuação do ponto de vista político. É a prática do bem viver para além dos discursos”, completou, Valdecir Nascimento, membra do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030.

Especificidades da população negra – Para as comunidades quilombolas, a estratégia tem sido fazer alianças nos territórios quilombolas e para além deles. Givânia Silva, membra do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), afirma que, com a interiorização da pandemia, a situação dos quilombos vai piorar. A dificuldade de lidar com as novas tecnologias ainda concentra trabalho em algumas pessoas da entidade, mas também permite conversas por meio de lives, como ocorreu durante os 24 anos da Conaq, em maio, até o monitoramento de contágios e óbitos.

Ana Lúcia Pereira, da entidade Agentes de Pastoral Negros (APN) e integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, manifestou a preocupação com a segurança alimentar e nutricional da população negra, exclusão digital e educação à distância durante e após a pandemia Covid-19.