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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Renata Koch Alvarenga: “A inclusão, empoderamento e envolvimento da juventude, especialmente das mulheres jovens, na construção da paz traz inúmeros benefícios”



29.08.2022


Renata Koch Alvarenga é uma jovem ativista brasileira comprometida com questões de gênero e justiça climática. É formada em Relações Internacionais pela Unisinos (Brasil) e atualmente cursa mestrado em Políticas Públicas na Harvard Kennedy School como Belfer Young Leader Fellow. Aos 22 anos de idade, fundou a iniciativa EmpoderaClima para aumentar a sensibilização sobre o empoderamento das mulheres nos espaços de tomada de decisões climáticas e defender a educação das meninas para a ação climática. Neste verão, estagiou no Gabinete da Enviada do Secretário-Geral da ONU para a Juventude. É embaixadora da G(irls)20/Fora do Brasil, líder da Transform Education, membra da Voices That Inspire e co-diretora de gênero para a juventude na ONU Clima. Renata tem sido conferencista em eventos de alto nível da ONU, como CSW65, COP25 e COP26. Ela é Membra Brasileira do Grupo de Juventude para a Geração Igualdade.

 

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Foto: Cortesia Renata Koch

 

Qual é o papel e porque a participação das juventudes é importante na construção da paz e na recuperação sustentável das crises?   

A participação das juventudes é essencial na construção da paz, pois somos nós que vamos herdar o que está sendo decidido agora sobre a recuperação sustentável do nosso planeta, e muitos jovens já sofrem as consequências de processos não inclusivos sobre a paz.

Quase metade da população mundial tem menos de 30 anos, mas nós não vemos essa representatividade nos espaços de tomada de decisão; nem nas negociações para a paz, nem nas negociações sobre as mudanças climáticas, ou sobre qualquer outra temática de preocupação global. Mesmo assim, nós sabemos que a participação ativa e a liderança da juventude nos diálogos sobre a paz levam a resultados mais ambiciosos, criativos e inclusivos.

Se não vermos jovens como agentes de mudança, principalmente jovens refugiados, mulheres jovens e meninas, jovens com deficiências e outros grupos marginalizados que possuem uma perspectiva diversa sobre a temática, não teremos políticas que reflitam a realidade da sociedade – e consequentemente, essas políticas não serão tão efetivas quanto poderiam ser.

A inclusão, o empoderamento e o engajamento da juventude, principalmente jovens mulheres, na construção de paz, traz benefícios incontáveis, e deve ser um dos principais pontos quando se fala se paz e segurança.

Como podemos promover uma participação mais significativa das juventudes na construção de sociedades mais pacíficas e com igualdade de gênero, inclusão e sustentabilidade?  

Para promover maior participação da juventude nos processos de construção da paz, com uma perspectiva de inclusão, precisamos de acesso. A falta de acesso à educação, principalmente em países do Sul Global, afeta o potencial da juventude, que não consegue adquirir as ferramentas necessárias para participar desses espaços de negociação e discussão sobre a paz. O desenvolvimento de capacidade das crianças e jovens para poderem atuar em papeis importantes, em todas as áreas, é essencial. A desigualdade começa aí.

Mulheres são a minoria quando se trata de carreiras STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics). Isso se dá pela falta de oportunidades para jovens mulheres nesses espaços.

A estrutura patriarcal torna mais difícil o caminho para que jovens mulheres tenham grande sucesso em certas áreas, e não é diferente quando se trata da construção da paz. Financiamento, apoio, mentoria e reconhecimento são algumas das possibilidades para mudar esse cenário e aumentar o fator interseccional e intergeracional na construção da paz.

Como se pode promover a solidariedade intergeracional para a construção de uma cultura de paz e recuperação sustentável para a realização dos ODS?

A solidariedade intergeracional é absolutamente crucial. Sem um espaço onde possa haver diálogo entre as gerações mais antigas e as gerações mais novas, não será possível desenvolver uma cultura de paz que seja realmente empática com as realidades diferentes e os problemas que cercam as diversas gerações.

A Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável só será atingida se todas e todos fizerem parte da solução, sem que ninguém seja deixado para trás. Precisamos da participação de jovens indígenas, jovens LGBTQIA+, jovens negros, por exemplo, para que as metas dos ODS sejam cumpridas de forma igualitária e inclusiva, e para isso, nós contamos com os tomadores de decisão e todas as pessoas que estão em alguma posição de poder quando se trata de desenvolvimento sustentável e a construção para um mundo melhor.

Nós, jovens, precisamos que as pessoas nesses espaços de liderança usem seu poder para incluir a juventude de forma significativa. Não é só trazer jovens para falar em eventos sobre a paz e a sustentabilidade do nosso planeta, ou inclui-los como participantes de alguma conferência, mas sim sobre adotar políticas que incluam jovens como parceiros no mesmo nível dos tomadores de decisão, como pessoas que podem agregar muito aos debates para a construção de paz – tanto quanto os que tem posições formais para isso. Já passou da hora da juventude ser incluída de forma significante e direta nesses diálogos, seja a nível global, regional, nacional ou local. Com um olhar intergeracional e interseccional, que considere as populações mais vulneráveis e realmente as inclua nas decisões, tenho certeza de que podemos construir uma cultura de paz e recuperação sustentável de forma efetiva.