Representantes da sociedade civil de Belém (PA) têm suas capacidades fortalecidas em advocacy sobre cuidados

29.11.2023

Formação piloto realizada pelo projeto Ver-o-Cuidado envolveu 12 organizações de diferentes áreas de atuação que se conectam à Agenda de Cuidados

Envolver a sociedade na Agenda de Cuidados é um movimento importante para avançar e garantir a representação da população na construção de políticas públicas sobre o tema. Partindo desse entendimento, o projeto Ver-o-Cuidado reuniu, dos dias 21 a 24 de novembro, cerca de 20 representantes de 12 organizações de Belém (PA) para participarem da formação piloto para fortalecimento das capacidades de advocacy da sociedade civil para o desenho e implementação de sistemas municipais de cuidado. Resultado da parceria entre a ONU Mulheres e a Prefeitura de Belém, o projeto Ver-o-Cuidado, tem convidado a sociedade civil a participar de diferentes momentos de escuta e sensibilização sobre o tema. “Embora seja um tema que faz parte da vida de todas e todos, a sociedade ainda não está empoderada sobre ele e isso dificulta a colocação das demandas sobre cuidado. Essa formação é pensada justamente para apoiar as lideranças da sociedade civil para terem mais capacidades de realizar advocacy sobre as suas necessidades e prioridades no tema. Quisemos reunir aqui um grupo diverso que representa as mulheres de Belém para apoiar na construção dessa política”, compartilhou a gerente de projetos da ONU Mulheres, Virgínia Gontijo, durante o primeiro dia de formação.

Partilha de conhecimentos – Para a formação, foram apresentados conteúdos que abordavam a organização social do cuidado, a contribuição do cuidado para o desenvolvimento da sociedade e da economia, a construção de sistemas integrais de cuidado, além da abordagem sobre a incidência da sociedade civil organizada para a construção desses sistemas a partir de exemplos. Mesmo com o conteúdo teórico e técnico que detalhava cada um dos pontos necessários para o fortalecimento de advocacy, as dinâmicas ocorridas durantes as aulas fizeram com que as participantes compartilhassem suas experiências e aprendizados durante os anos de atuação em suas organizações e, claro, em suas vidas pessoais como trabalhadoras não remuneradas do cuidado. Estiveram na formação representares da Associação de Doulas do Pará (Adoupa), da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Belém (Apae Belém), da Associação Paraense das Pessoas com Deficiência (APPD), do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu), do Conselho Warao Ojiduna, da Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (COJOVEM), da Cooperativa de Catadores da Ilha de Cotijuba, da Federação das Trabalhadoras Domésticas da Região Amazônia, Grupo de Mulheres Brasileiras (GMB), do Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará (Gempac), do Instituto Lílian Gusmão, do Instituto Mansu Nangetu de Tradição Afro, do Instituto Nossa Voz, do Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém e do Movimento Nacional das Catadoras de Materiais Recicláveis.

Continuidade – A formação piloto voltada para a sociedade civil segue o mesmo princípio de concepção da formação realizada durante o primeiro semestre de 2023 com servidoras municipais de Belém, servindo de base para multiplicação do conhecimento para que ainda mais pessoas possam se apropriar de conceitos, princípios e estratégicas básicas para o fortalecimento da agenda de cuidados. A partir das opiniões das participantes da formação, o conteúdo será adequado para a elaboração de uma caixa de ferramentas para atuação sobre o tema. Antes mesmo desses resultados serem concretizados, durante a formação muitas participantes começaram a se articular e pensar estratégias para disseminar o que absorveram durante os quatro dias de encontro. “Eu já saio daqui querendo incluir esse tema como um debate público, chamando a atenção para a necessidade de financiamento. Isso precisa surgir como um pilar da política pública, não só sob a perspectiva da assistência social, da saúde e da educação, mas como uma política de cuidado”, disse Regina Barata, representante da APPD.

Ivonete Pinheiro, atuante no Cedenpa, revelou que esse foi o primeiro espaço em que teve contato sobre discussões sobre o trabalho de cuidado nas perspectivas em que a formação abordou. “Eu quero levar esse debate para a organização que eu faço parte e para as mulheres que estão ao meu entorno para pensar o cuidado em um debate complexo como ele é. Eu quero falar cada vez mais sobre isso para que as pessoas pensem nas inúmeras intersecções que essa discussão representa”, desabafa. O grupo que atendeu ao convite para a formação foi formado majoritariamente por mulheres, ainda que o gênero não tenha sido um requisito para a participação. A presença feminina nas aulas reflete uma série de pesquisas sobre a presença das mulheres em trabalhos voluntários, como o último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua 2022 (PNAD-C) que revela que a taxa de ocupação feminina com trabalhos voluntários é de 4,9%, enquanto a dos homens é de 3,5%. Ver-o-Cuidado – O projeto Ver-o-Cuidado é uma parceria entre ONU Mulheres, Prefeitura de Belém (PA) e Fundação Papa João XIII (Funpapa), com apoio da Open Society Foundations, que tem por objetivo estabelecer um piloto de Sistema Municipal de Cuidados no município. Iniciado em maio de 2022, o projeto é desenvolvido em duas frentes. A primeira tem como foco o apoio à gestão municipal e às instituições públicas na elaboração e implementação desse sistema de cuidado. Paralelamente a essa construção, as atividades também alcançarão as trabalhadoras do cuidado, remuneradas ou não, atuando no desenvolvimento de suas capacidades nos aspectos pessoais e profissionais, para que acessem trabalho decente e autonomia econômica. A iniciativa é conduzida por um comitê gestor do qual fazem parte 12 organizações: Fundação Papa João XIII (Funpapa), Secretaria Municipal de Administração da Prefeitura de Belém (Semad), Secretaria Municipal de Educação de Belém (Semec), Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), Banco do Povo de Belém, Coordenadoria da Mulher de Belém (Combel), Coordenadoria Antirracista (Coant), Coordenação das Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (Copsan), Coordenadoria da Diversidade Sexual (CDS), Coordenadoria de Comunicação Social de Belém (Comus), Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Município de Belém (Iasb) e ONU Mulheres.