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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Do cuidado familiar à política pública: conheça a história da assistente social que atua na promoção da corresponsabilidade pelo cuidado



15.05.2025


No Dia da Pessoa Assistente Social, celebrado em 15 de maio, apresentamos Sandra Valente, gestora pública que apoiou na implementação do projeto Ver-o-Cuidado, uma parceria da ONU Mulheres com a Prefeitura de Belém (PA)

Do cuidado familiar à política pública: conheça a história da assistente social que atua na promoção da corresponsabilidade pelo cuidado/

Sandra Valente, servidora municipal de Belém, contribui para a implementação de uma política municipal de cuidados na capital do Estado do Pará. (Foto: ONU Mulheres/Lali Mareco)

A inquietação sobre o que via ao redor levou Sandra Valente a cursar Serviço Social, nascida em uma família de baixa renda, ela buscou na universidade as respostas para as situações que considerava injustas na sociedade. Há 27 anos Sandra é servidora municipal da Prefeitura de Belém (PA), tempo em que tem atuado em diferentes áreas da política de assistência social e que, nos últimos anos, também contribui para a implementação de uma política municipal de cuidados na capital do Estado do Pará a partir do projeto Ver-o-Cuidado, iniciativa resultado da parceria entre a ONU Mulheres e a Prefeitura de Belém, com o apoio da Open Society Foundations.

Embora questionasse as desigualdades que cercavam a vida de sua família, Sandra cresceu observando sua mãe e seu pai se dedicarem a apoiar a vizinhança em ações de liderança comunitária. “Minha mãe era tipo curandeira também. Ela cuidava dos outros. Quem adoecia corria lá com ela para curar garganta de criança, benzer criança com febre. Então ela já era meio que uma cuidadora”, relembra Sandra ao falar do seu caminho até se tornar assistente social.

Para concluir a faculdade, Sandra precisou aliar os estudos com a maternidade. “Eu me casei, fui para a faculdade, engravidei, mas não parei de estudar”, diz. Assim como na realidade de muitas mães, ela levava o filho de poucos meses para aula, para poder continuar amamentando. Já prestes a se formar, a maternidade foi o cenário para a finalização do trabalho de conclusão de curso, logo após a chegada do segundo filho.

Já no mercado de trabalho, o equilíbrio entre a vida profissional e as tarefas de cuidado não se sustentou após dois anos, com a chegada do terceiro filho. A distância entre a casa e o trabalho fez com que a assistente social deixasse o trabalho remunerado para se dedicar ao novo bebê e à família, focando no trabalho de cuidado não remunerado, uma decisão que não é incomum na maternidade. Um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), da Universidade de São Paulo (USP) somente em 2022, mais de 11 mil mulheres ficaram fora da força de trabalho porque precisaram cuidar de crianças, de pessoas com deficiência ou realizar afazeres domésticos.

Sandra não imaginava, mas anos depois de retomar a carreira profissional, ela contribuiria para que cada vez menos mulheres se vejam obrigadas a escolher entre a jornada laboral ou as demandas de cuidado de familiares. Como diretora-geral da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), órgão que coordena e executa a política de assistência social municipal em Belém, Sandra representou o órgão na co-liderança com ONU Mulheres do projeto Ver-o-Cuidado, iniciado em 2022, com o objetivo de implementar um sistema municipal de cuidados na capital paraense.

Do cuidado familiar à política pública: conheça a história da assistente social que atua na promoção da corresponsabilidade pelo cuidado/

No lado direito da foto, Sandra, ao microfone, fala com a comunidade de mulheres na Ilha de Cotijuba durante a primeira ação realizada pelo projeto Ver-o-Cuidado. (Foto: ONU Mulheres/Lali Mareco)

“Quando eu comecei a atuar no projeto, o tema parecia muito próximo, mas ao mesmo tempo muito distante. Com o tempo fui me apropriando do que era essa especificação do cuidado na temática de gênero e vendo a dimensão do debate. Como é ligado a economia mundial, a reprodução social e a reprodução da vida”, explica Sandra. Em 2023, ela integrou a turma piloto de uma formação realizada pelo projeto Ver-o-Cuidado para o aumento de capacidades técnicas de servidoras e servidores públicos visando a construção de políticas públicas de cuidados.  

“A assistência social é um dos pilares dos sistemas de cuidado, visto que é uma das áreas da política pública que mais fornece serviços de cuidado ou de apoio ao cuidado. Os exemplos mais comuns são os Centros-Dias para pessoas com deficiência, abrigos, centros de convivência para pessoas idosas e programas de subsídios financeiros para famílias em situação de vulnerabilidade. Portanto, aplicar a lente do cuidado com suas dimensões de gênero, raça, etnia e demais interseccionalidades contribui para que essas políticas sejam efetivas para as pessoas que mais precisam de cuidados e as que cuidam”,  diz Virgínia Laís Gontijo, Gerente de Projetos de ONU Mulheres. 

Como representante da Funpapa no projeto, Sandra também fez parte do Comitê Gestor que foi responsável pelo planejamento estratégico e execução das atividades ao longo do período de implementação do Ver-o-Cuidado. Ao todo, 11 organizações ligadas a áreas relacionadas a políticas de cuidados da Prefeitura de Belém integraram o Comitê Gestor, dissolvido a partir da instituição do Comitê Municipal para Política de Cuidados de Belém. 

Do cuidado familiar à política pública: conheça a história da assistente social que atua na promoção da corresponsabilidade pelo cuidado/

Sandra foi uma das representantes do projeto Ver-o-Cuidado a apresentar o trabalho desenvolvido em Belém, durante evento de lançamento do GTI de Cuidados, do Governo Federal. (Foto: ONU Mulheres/Talita Carvalho)

Ao avaliar sua trajetória como uma agente ativa para a promoção da corresponsabilidade de cuidados, Sandra se diz orgulhosa. Ela lembra da importância da experiência vivenciada em Belém ter ganhado visibilidade e despertado interesse a nível nacional. “Ter tido a presença de representantes do Governo Federal aqui, indo até as ilhas discutir com as mulheres dá visibilidade para as mulheres amazônidas. É a subjetividade construída na relação com os movimentos, no debate.