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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Mulheres em espaços de poder: Maria Leonice Tupari, conectando mulheres indígenas e defendendo direitos humanos



12.04.2021


Um dos impactos profundos da pandemia da COVID-19 nas comunidades indígenas brasileiras tem sido nas culturas indígenas, afirma Maria Leonice Tupari, 45, coordenadora da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (AGIR), de Cacoal, Brasil e uma das articuladoras do Voz das Mulheres Indígenas, iniciativa implementada pela ONU Mulheres em cooperação com a Embaixada da Noruega, que fomentou o empoderamento, a mobilização social e a participação política de mulheres indígenas de mais de uma centena de etnias no Brasil.  

Fundada em 2015, a AGIR defende os direitos de 56 povos indígenas no estado de Rondônia, através de representações femininas, promovendo o empoderamento das mulheres e denunciado violações de direitos humanos.   

Tivemos que aprender a viver de um jeito diferente. A gente visitava a aldeia uns dos outros, visitava a casa uns dos outros”, diz Leonice. “Muitos parentes não entenderam, a princípio, o que era o coronavírus; porque não podiam mais visitar ninguém. Isso impactou bastante no relacionamento comunitário. Os hábitos de fazer festa e realizar velórios tradicionais não podem mais acontecer, por exemplo. Segundo ela, a dimensão desse impacto só poderá ser compreendida nos próximos anos. 

“A maioria das pessoas que faleceram foram homens indígenas. Quem acabou ficando com toda a responsabilidade pela família foram as mulheres. Daqui pra frente, como vai ser a vida dessas mulheres? 

Leonice participa do movimento indígena desde 2000, quando percebeu um aumento da violência contra as mulheres indígenas nos territórios. Através da AGIR, atua em defesa dos territórios, sobretudo contra atividades ilegais que, segundo ela, agravam ainda mais o contexto de violência sexual contra as mulheres indígenas.  

 

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Entre abril e maio de 2020, no início da pandemia da covid-19, a ONU Mulheres conduziu uma série de consultas com parceiras e defensoras de direitos humanos por meio do projeto financiado pela União Europeia “Conectando Mulheres, Defendendo Direitos. Essas consultas levaram ao lançamento de um edital focado em fortalecer as capacidades institucionais organizações de  defensoras de direitos humanos. O edital recebeu 629 candidaturas e a AGIR foi uma das sete organizações que receberam o apoio financeiro. 

Para Leonice Tupari, o projeto vem fortalecendo as habilidades de comunicação das lideranças indígenas em todo o estado, aprimorando o uso de ferramentas de comunicação digital e possibilitando maior compreensão do impacto da pandemia nas comunidades indígenas Segundo ela, desenvolver habilidades de comunicação tem contribuído não só para aumentar a visibilidade da atuação da AGIR nos territórios, mas também tem ajudado a levar informações sobre a pandemia para os povos indígenas, combatendo as notícias falsas que atrapalham o trabalho das lideranças. 

“Antes do projeto, a gente se reunia com mais frequência. Hoje tudo é mais tecnológico, online. Esta é uma das coisas que mais mudou. Apesar de não sermos termos tanto conhecimento em tecnologia, tivemos que aprender e continuamos aprendendo novas ferramentas de comunicação. Com o projeto, vamos aprender ainda mais e superar esses desafios”. 

“As coisas estão mudando constantemente, então a gente precisa se adaptar. O lado positivo é que antes da Covid-19 existia um limite de pessoas que podiam participar das reuniões. Agora que é online, não tem mais limite! Apesar das dificuldades de acesso à Internet, estamos conseguindo agir mais e ter a participação de mais pessoas. Antes, a gente nem sabia que existiam outras formas de nos reunirmos. Agora estamos conhecendo outras realidades,” diz Leonice.