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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Em Roraima, teatro, roda de conversa, exibição de documentário e exposição marcam ações de prevenção à violência contra as mulheres



17.12.2020


Com ações voltadas tanto para mulheres quanto para homens, campanha do Secretário-Geral da ONU “UNA-SE pelo Fim da Violência contra as Mulheres” em apoio aos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres buscou alertar sobre o aumento de casos durante a pandemia e mobilizar também trabalhadores e trabalhadoras humanitárias que têm atuado diretamente na resposta à crise migratória venezuelana

 

Em Roraima, teatro, roda de conversa, exibição de documentário e exposição marcam ações de prevenção à violência contra as mulheres/violencia contra as mulheres 16 dias de ativismo

Teatro de encerramento abordou temas como violência e canais de denúncia Foto: Divulgação/ Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados

A preocupação com a violência contra meninas e mulheres tem aumentado significativamente durante a pandemia da COVID-19. Entre as que já viviam em situação de vulnerabilidade, como migrantes e refugiadas, a preocupação é ainda maior. Apenas no estado de Roraima, de acordo com o Anuário de Segurança Pública, os casos de violência e agressões contra mulheres aumentaram 32% no primeiro semestre de 2020 – período marcado pelo distanciamento social. Na tentativa de conter esses índices, a ONU Mulheres, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a partir do programa Liderança, Empoderamento, Acesso e Proteção para Mulheres Migrantes, Solicitantes de Refúgio e Refugiadas no Brasil (LEAP) apoiado pela Embaixada de Luxemburgo, uniram esforços para coordenar ações interagenciais voltadas para a população migrante no estado como parte da campanha do Secretário-Geral da ONU “UNA-SE pelo Fim da Violência contra as Mulheres” durante os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

Neste ano, as ações em Roraima contaram com atividades de prevenção à violência baseada em gênero, capacitações sobre a Lei Maria da Penha e sobre atendimento humanizado a migrantes, webinários, cine-debates e veiculação de mensagens em carros de som pela capital, Boa Vista. Também foram realizadas ações nos abrigos e nas ocupações espontâneas, assim como capacitações com profissionais que trabalham diretamente na resposta à crise migratória. Durante os dias da campanha, alguns abrigos para migrantes, refugiados e refugiadas receberam iluminação laranja, cor símbolo do enfrentamento da violência contra as mulheres.

As atividades encerraram em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, em evento voltado especialmente para migrantes e refugiadas, realizado no SESC Mecejana. A ação, que também teve a participação de mulheres brasileiras, contou com uma peça de teatro seguida de uma roda de conversa, onde foram abordados temas como abuso e violência sexual, preconceito, xenofobia, LGBTfobia, canais e formas de denúncia. A atividade também incluiu a exibição de um documentário e a realização de uma exposição, no espaço da galeria do SESC, onde foram mostrados produtos confeccionados ao longo das oficinas e atividades dos 16 Dias de Ativismo em Roraima.

“Temos visto a violência contra mulheres aumentar muito durante a pandemia de COVID-19. Infelizmente, nossas casas nem sempre são lugares seguros, e em Roraima esses índices estão aumentando. Por isso essa campanha se mostra tão importante nesse momento”, afirma a gerente de Liderança e Participação em Ação Humanitária da ONU Mulheres, Tamara Jurberg.

 

Em Roraima, teatro, roda de conversa, exibição de documentário e exposição marcam ações de prevenção à violência contra as mulheres/violencia contra as mulheres 16 dias de ativismo

Abrigo Rondon 2 foi um dos locais que receberam iluminação laranja durante os 16 Dias de Ativismo
Foto: ONU Mulheres/Tamara Jurberg

Com mulheres, ações promoveram informação e acesso a direitos – No total, as ações dos 16 Dias de Ativismo em Roraima contaram com a articulação de cinco agências das Nações Unidas – além de ONU Mulheres, UNFPA e ACNUR, estiveram envolvidas OIM e Unicef. As atividades tiveram também o apoio de oito organizações da sociedade civil e a participação do poder público.

Nas atividades realizadas com as mulheres, o foco principal foi o compartilhamento de informações sobre como identificar violências, os canais de denúncia e os serviços disponíveis, tanto para brasileiras quanto para migrantes e refugiadas. Para a coordenadora de Violência Baseada em Gênero do UNFPA, Patrícia Ludmila, realizar a campanha no contexto migratório de Roraima de forma interagencial é fundamental para alertar a sociedade sobre o combate à violência em suas mais variadas esferas.

“A ação coordenada, colaborativa e cooperativa da campanha nesse ano conseguiu contribuir com o fortalecimento e integração das redes de proteção intersetorial local e Humanitária, além de fortalecer a resiliência comunitária das mulheres migrantes e refugiadas, através de diversas ações em diferentes espaços – desde atividades de formação para a Rede de proteção até atividades nas ruas, nos abrigos e demais locais de circulação da população migrante”, comemora. “As atividades serviram ainda para reforçar e divulgar os locais da rede de proteção (dispositivos dos sistemas nacionais e equipamentos Humanitários) para mulheres e meninas sobreviventes de violência”, completa.

Com homens, ações focaram a conscientização sobre a violência – Mas não foram apenas as mulheres, sobreviventes da violência, que estiverem no foco da campanha. As atividades dos 16 Dias contaram também com a conscientização de homens, já que eles são os principais potenciais agressores. Tanto migrantes e refugiados venezuelanos que vivem em abrigos e ocupações de Roraima quanto 36 trabalhadores humanitários, de agências das Nações Unidas, das Forças Armadas e de parceiros da sociedade civil, foram alcançados por workshops de O Valente não é Violento. A iniciativa busca a mudança de atitudes e comportamento a partir da conscientização sobre a responsabilidade que eles têm no enfrentamento e na eliminação da violência baseada em gênero. As duas oficinas contaram com apoio do ACNUR e do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados.

“Junto com a ONU Mulheres, temos trabalhado temas como a masculinidade positiva, paternidade ativa, e discutimos alguns traços da masculinidade tóxica que precisam ser trabalhados, principalmente aqueles traços e aquela construção social que vão impactar diretamente nos altos índices de violência contra a mulher”, afirma o assistente sênior de Proteção do ACNUR, Davi Lins Ribeiro. Ele destaca que, mesmo com a pandemia, foi possível a realização de módulos presenciais e mobilizar agências das Nações Unidas, organizações não governamentais, autoridades locais e o Exército Brasileiro para as capacitações. “É muito importante que nós, trabalhadores humanitários e homens, assumamos a responsabilidade, junto com as mulheres, na resposta à violência baseada em gênero e à violência doméstica. Precisamos não apenas agir, mas temos a responsabilidade legal de denunciar, discutir sobre isso, falar sobre a raiz dessa violência e garantir que tenhamos espaços seguros”, finaliza.

Com a intenção de fortalecer a conscientização de todos os atores que trabalham com migrantes e refugiados, a capacitação de O Valente não é Violento deverá ser oferecida nas próximas semanas também a servidores públicos de Boa Vista.